
Quem diria que, ao completar meio século de existência, a engenhosa Poltrona Rede, de Sergio Bernardes (1919–2002), seria redescoberta e ganharia vida nova? Criada em 1975, a peça chega a 2025 com status renovado: reeditada pela Dpot, ela retorna ao mercado depois de décadas restrita a raríssimos exemplares – tão escassos que nem mesmo a família do arquiteto possuía um.

Poucas unidades foram produzidas na época de sua criação, e não se sabe ao certo “quantas, nem por quem”, conta Baba Vacaro, diretora criativa da Dpot. Esse caráter de mistério alimentou a aura mítica da peça. Em 2010, Baba teve acesso aos desenhos originais, mas isso estava longe de ser suficiente para viabilizar uma reedição.

“Só com eles era impossível refazer a [poltrona] Rede. Desde então eu vinha procurando uma peça original para ver como eram as fixações e os mecanismos. Por exemplo: como ele tinha bolado o sistema dos cilindros de madeira – eles giram quando a gente se senta, aumentando o conforto do assento. Detalhes como esse não dava para compreender pelo desenho”, explica Baba.

Foram quase 15 anos de buscas até que, mais recentemente, ficou sabendo, pelo arquiteto Felipe Hess, de uma peça que havia sido comprada em leilão por uma de suas clientes. “Ela nos deu acesso à cadeira e aí pude entender realmente como ela era feita, como era o mecanismo giratório das peças, porque os produtos do Sérgio são aparentemente simples, mas muito complexos na sua engenharia.”

Da rede ao móvel
A Poltrona Rede é fruto de uma longa trajetória de pesquisa de Bernardes sobre redes indígenas. Como conta Fernando Serapião no livro Sergio Bernardes, designer:
“A Poltrona Rede é o ápice da pesquisa realizada por Bernardes sobre redes indígenas. O estudo, iniciado na década de 1950 com estruturas metálicas para redes, evoluiu para móveis fixos na década de 1960, culminando na proposta de um móvel. Constituída de aço inoxidável e couro, a poltrona é apoiada num sistema de rodízio que permite girar em torno de seu eixo.”


Essa linha de investigação começou décadas antes, na casa de Lota de Macedo Soares, em Petrópolis (RJ), e passou por modelos fixos instalados no Hotel Tambaú, em João Pessoa (PB), e na própria residência de Bernardes, no Rio de Janeiro (RJ).
Para Serapião, a peça conecta “tecnologia aos povos originários” e representa “uma espécie de trono da potência tropical brasileira”.

De volta ao convívio
Com a reedição pela Dpot em 2025, a poltrona Rede deixa de ser uma raridade inacessível para voltar ao convívio. Preserva sua engenharia engenhosa e seu desenho inconfundível, mas agora com a vantagem de poder ser vivida por novas gerações.


O relançamento aconteceu simultaneamente ao lançamento do livro Sergio Bernardes, designer, de Fernando Serapião (ed. Monolito), e à abertura da exposição homônima na Dpot da Al. Gabriel Monteiro da Silva,479 (em cartaz até 27 de agosto). Um movimento que celebra não apenas um objeto icônico, mas também a memória e o pensamento de um criador singular, aproximando sua obra do público atual.


Fotos: Fernando Laszlo (still), divulgação (ambientadas) e reprodução (desenhos).
