Milano Design Week 2024: o design se torna circular

Tempo de leitura: 4 minutos

Durante a Semana de Design de Milão 2024 tivemos a oportunidade de conhecer interessantes projetos de design que envolvem o tema da economia circular: da reutilização de materiais de descarte industrial à criação de novos materiais a partir de uma matéria-prima biológica, destaco cinco projetos que me chamaram a atenção, apresentados na feira e no Fuorisalone.

Catifa Carta – Arper

Um dos grandes destaques do Salone del Mobile estava no pavilhão 22, no estande da marca italiana Arper. Trata-se de um projeto sustentável e circular que reinterpreta um dos ícones mais vendidos da marca, a cadeira Catifa 53, desenhada em 2001 pelo estúdio Lievore Altherr Molina. Na nova versão (Catifa Carta), a concha é realizada inteiramente em papel kraft: são 29 folhas prensadas a alta temperatura com um aglutinante natural, o que confere a cor marrom escura ao assento (que pode ainda ter uma segunda opção de acabamento preto através do tratamento da superfície com calor). O usuário se senta literalmente no papel, e a cadeira é resistente e confortável.

A empresa, pensando em construir um projeto circular, se preocupou ainda com o final da vida da cadeira. O produto pode ser totalmente desmantelado e a concha, através de um processo de pirólise, se transforma em biochar (biocarvão), um material rico em carbono, que é devolvido ao solo, podendo se utilizado para a recuperação e melhoria da saúde do terreno.

Re-Ceramic. Vitra Bathrooms com Tom Dixon

Entre as instalações presentes na Università Statale para o evento Interni Cross Vision 70, a marca turca de sanitários e metais Vitra esteve presente com a instalação Re-Ceramic, para apresentar sua primeira cuba feita em material 100% reciclado. Elaborada pelo designer inglês Tom Dixon, a instalação mostra o percurso de construção da cuba: os produtos defeituosos que seriam descartados da produção industrial da marca são separados e transformados em pó de cerâmica. O pó, misturado com água, se transforma em barbotina, matéria-prima da nova cuba Re-Ceramic, que é executada com uma máquina que realiza o processo de moldagem da barbotina.

Hydro CIRCAL 100R

A Hydro é uma companhia norueguesa líder no setor energético e na produção do alumínio que atua no mundo inteiro. Visando divulgar o Hydro CIRCAL 100R, processo que permite obter produtos em alumínio feitos 100% a partir de material reciclado pós-consumo, a empresa apresentou uma instalação no FuoriSalone na qual sete designers internacionais foram convidados a criar novos produtos com o CIRCAL 100R. Sob a direção de arte do norueguês Lars Beller Fjetland, os designers Inga Sempé, Max Lamb, Andreas Engesvik, Shane Schneck, Rachel Griffin, John Tree e Philippe Malouin deram vida a objetos elegantes e prontos para produção industrial, mostrando sua vasta gama de possibilidades e sensibilizando os visitantes a considerarem a utilização desse material altamente sustentável em seus projetos. 

econitWood™️

O designer Harry Thaler encantou os visitantes da Villa Bagatti Valsecchi, uma das locações da Alcova 2024, ao mostrar a sua linha de móveis impressos em 3d com pó de serragem, feitos em colaboração com a empresa alemã econitWoodTM. Os resíduos, misturados a uma resina mineral, deram formas a poltronas, mesas e luminárias de formas geométricas arrendondadas com uma superfície levemente áspera e irregular.

Mycotex by Neffa

Foram muitos os projetos interessantes vistos na mostra de design dos Países Baixos, Masterly – The Dutch in Milano, e grande parte dos produtos sustentáveis provinham da biodiversidade.

O micélio (emaranhado de filamentos longos e microscópicos de fungos multicelulares) é a matéria-prima para o Mycotex, material elaborado por robôs Neffa. Nascido há poucos anos como material para a indústria da moda (roupas e bolsas), suas fundadoras Aniela Hoitink e Nicoline van Enter decidiram entrar no mundo do design apresentando a luminária The Conch, projetada por Marc Van Der Voorn. Interessante notar que neste projeto até a utilização de robôs ao invés de impressoras 3Ds tem a sua razão: são mais sustentáveis e menos custosos.

Por Flavia Paes Lourenção

(Fotos: divulgação)

Posts Relacionados

Comece a digitar sua pesquisa acima e pressione Enter para pesquisar. Pressione ESC para cancelar.