Arte, design, natureza e tecnologia. Todos esses elementos se integram na obra do Studio Drift, coletivo criativo criado pelos holandeses Lonneke Gordijn e Ralph Nauta em 2007 e que vem conquistando admiradores mundo afora desde então.
Pois agora o Brasil recebe, pela primeira vez, uma exposição individual do Drift que reúne uma série de obras icônicas ao lado de outras menos conhecidas (mas igualmente fantásticas), além de exibir o processo criativo por trás das obras expostas.
Com curadoria de Alfons Hug e Marcello Dantas, “Vida em coisas” é uma realização do Centro Cultural Banco do Brasil e, até o final de 2023, terá passado por quatro capitais brasileiras: Rio de Janeiro (29/3 a 22/5/23), São Paulo (14/6 a 7/8/23), Brasília e Belo Horizonte (datas a definir).
Visitamos a mostra ontem na coletiva de imprensa promovida pelo CCBB São Paulo, que na ocasião também inaugurou um novo edifício anexo, acrescentando mais 300 m2 de área expositiva aos 700 m2 do edifício-sede.
Confira, a seguir, as obras que integram a exposição “Vida em coisas” (infos das legendas fornecidas pelo CCBB).
Shylight
(2006-2014)
Alumínio, aço inoxidável polido, seda, luzes de LED, robótica
Algumas espécies de flores se fecham à noite para se defender e preservar seus recursos. Este mecanismo natural, altamente evoluído, chama-se nictinastia e inspirou DRIFT a criar Shylight, uma escultura que desabrocha e retorna a seu estado original, criando uma coreografia fascinante que reproduz a nictinastia de flores reais. Objetos de fabricação humana tendem a ter uma forma estática, enquanto o mundo natural – incluindo os seres humanos – está sujeito a uma constante metamorfose e à adaptação a seu entorno.
Shylight nasce de uma pesquisa de cinco anos dos artistas sobre como mimetizar expressões de personalidade e emoções. Feita a partir de diversas camadas de seda, os movimentos imprevisíveis e de aparência natural concedem à obra uma coreografia sutil e graciosa, em que um objeto inanimado parece ganhar vida.
Amplitude
(2015)
Latão, vidro borossilicato, robótica, aço inoxidável
Nesta instalação cinética, os artistas replicam o movimento universal infinito que encontramos na natureza, como, por exemplo, nas ondas do mar. É natural aos seres humanos alinhar-se às frequências ao seu redor. Isto determina uma busca constante por harmonia com o ambiente e é o que dita nosso ritmo natural – os batimentos cardíacos e a respiração tendem a se adaptar a este ritmo.
Por meio de suas contínuas pulsações e a habilidade de refletir a luz em seu entorno, Amplitude imprime uma sensação de leveza. Cada elemento da escultura funciona como um indivíduo que atua em sua própria amplitude, ao mesmo tempo em que opera como um coletivo. A combinação dos movimentos é sincronizada e, em alguns momentos, descompassada. Movimento e elementos móveis em harmonia ou em desbalanço são onipresentes na natureza. Sem movimento, não há vida. Com Amplitude, DRIFT busca criar uma experiência que coloque o público na mesma frequência da natureza.
Materialism
(2018 – )
Materialism é um projeto contínuo, o qual explora as coisas que nos cercam e os materiais que as compõem. Desde o Renascimento, cientistas vêm investigando o mundo de forma sistemática, utilizando razão e observação para desvendar os mistérios da natureza e entender sua materialidade. Este processo produziu uma imensa quantidade de conhecimento e avanços, ao mesmo tempo que introduz, até hoje, milhares de novas “coisas artificiais”. Objetos que sustentam a nossa existência, resultantes da industrialização e do comércio, e que contêm uma série de componentes forjados pelo design. Entretanto, cada vez mais as pessoas estão alheias aos mecanismos internos e à composição dessas “coisas artificiais”.
Nesta obra, DRIFT subverte as regras da engenharia da produção em massa, descontruindo produtos do cotidiano e os reconstruindo em forma de blocos. Itens dos quais normalmente notamos apenas sua funcionalidade, tais quais um fusca, uma bicicleta e um Game Boy, até dois produtos bastante conhecidos pelo público brasileiro: a Havaiana e o pandeiro. Ambos foram desenvolvidos especialmente para a exposição, assim como a cadeira Banquete, peça criada em 2002 pelos designers brasileiros Humberto e Fernando Campana, constituída por dezenas de bichinhos de pelúcia.
Cadeira Banquete (2023): poliéster, aço inox, lona, algodão, feltro (foto: Chrys Hadrian)
Bicicleta: aço, borracha, espuma de poliuretano, alumínio, tinta (esmalte), ABS, POM, aço inoxidável, gel, policarbonato vermelho, latão, ímã, fibra de vidro (foto: Michele Margot)
EGO
(2020)
Fibra de náilon, fibra Dyneema, motores, alumínio, software
EGO é uma escultura cinética tempo-dependente feita por um bloco de finas linhas de fibra de náilon que se move por meio de uma delicada coreografia. Sua forma, aparentemente sólida, contrasta com o material leve e movimentação fluída. Criada originalmente para a ópera L’Orfeo, da Dutch Travel Opera, a obra representa a oscilação das emoções e o dinamismo do pensamento humano.
Para produzir EGO, um software personalizado foi desenvolvido para possibilitar que oito motores, cada qual com seu algoritmo, desse mobilidade ao bloco no tensionar dos fios, alternando-o entre estados naturais e não naturais. EGO materializa a conexão entre a performance e a instalação, na qual cada edição apresenta uma coreografia única e inédita.
Fragile Future
(2005)
Sementes de dente-de-leão, bronze fosforoso, eletrônicos, luzes de LED
Em Fragile Future, DRIFT funde natureza e tecnologia em uma escultura luminosa multidisciplinar. O projeto apresenta uma visão crítica, porém utópica, sobre o futuro do planeta, em que duas evoluções aparentemente opostas fazem um pacto de sobrevivência. A obra é composta por três circuitos elétricos de bronze conectados a dentes-de-leão emissores de luz. Assim como a natureza, a escultura se adapta ao espaço, e pode crescer infinitamente se acrescentados novos circuitos a sua estrutura.
Esta é uma obra cuja produção consome bastante tempo, já que o processo é inteiramente manual. Anualmente, o estúdio coleta cerca de 15 mil sementes de dente-de-leão durante a primavera em Amsterdã, na Holanda. Elas são coladas individualmente às luzes de LED para recriar esta versão elétrica da flor, que pode ser iluminada.