Há tempos que a medicina popular sabe dos vários benefícios do óleo de mamona, que tem propriedades analgésicas, anti-inflamatórias e anti-histamínicas (o famoso óleo de rícino, queridinho de nossas avós). Mas seu uso não para por aí: o óleo de mamona serviu como matéria-prima para a produção de biodiesel e também já foi a base para a criação, por pesquisadores da USP São Carlos, de uma bioresina usada principalmente na construção civil, como impermeabilizante ou verniz.
Essa bioresina é uma alternativa sustentável a derivados de petróleo e tem sido muito procurada graças a características como a estabilidade físico-química, a elasticidade e capacidade de aderência a materiais porosos — e além disso, é totalmente atóxica.
Só que o seu potencial estético até agora foi pouco explorado. “Quando colocado contra a luz, o material produz uma iluminação alaranjada, quente e etérea”, pontuam Mariana Ramos e Ricardo Innecco, designers à frente do Estúdio Rain. Com esse estímulo, eles começaram uma pesquisa para entender o comportamento e os limites do material: a ideia era viabilizar a fundição de grandes porções de massa da resina.
E assim, experimentando com esse material desde 2020, os designers conseguiram adaptá-lo para o uso no design, e chegaram a uma coleção de luminárias — batizada, não à toa, de Rícino. Aqui, o uso técnico da resina de mamona dá lugar à exploração estética.
São quatro modelos — dois de parede, um de mesa e um de piso —, todos estruturados em suportes de alumínio. A fonte luminosa é um sistema linear de LED embutido; filtrada pela resina âmbar, a luz resultante é extremamente cálida e acolhedora.
“Na busca por um material moldável com boa resistência à variação de temperatura, chegou-se ao polímero vegetal de mamona. Sua estabilidade térmica aliada ao aspecto visual — transparente e de coloração âmbar — inspirou o desenvolvimento da coleção, que tem a resina como elemento central”, contam os designers.
Muito interessante também é a forma como as luminárias espelham o processo produtivo das peças. As camadas de resina são feitas derramando o material em uma superfície inclinada, de modo que as bordas irregulares refletem esse aspecto líquido da resina no início da execução. A inclinação das fôrmas também faz com que as placas de resina tenham variação de espessura de uma ponta a outra, resultando na criação de gradientes de cor ao longo do corpo das luminárias. E as bolhas (lindas!) também são parte do processo, resultantes da vibração periódica das formas para chegar a um aspecto mais uniforme na superfície.
“Das formas, texturas, densidades, tons testados, chegou-se a um resultado que explora a força da matéria, sem abrir mão da delicadeza”, afirmam os designers. Concordo totalmente!
No vídeo abaixo, dá para ver uma parte do processo de pesquisa e desenvolvimento da linha Rícino. Vale conferir 🙂
(Fotos: Alex Batista / divulgação)