Mesa de cacos de vidro questiona conceitos de feiura e beleza

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Dizem que “a beleza está nos olhos de quem vê”. Ou que “quem ama o feio, bonito lhe parece”. Pois a relação entre a beleza e a feiúra, e a própria reflexão sobre estes conceitos foram o ponto de partida para o surgimento da mesa Caco, uma criação do arquiteto Lucas Recchia para a Firma Casa.

“Logo que eu lancei a coleção Morfa, a reação das pessoas era sempre de que a mesa era bonita, era uma coisa fácil de ser aceita, de as pessoas gostarem. E isso por algum motivo começou a me incomodar”, me contou Lucas há poucos dias. Pois após investigar a concepção de beleza, desde os filósofos gregos até os contemporâneos (Umberto Eco, especialmente), o designer decidiu apostar na “feiura”.

A feiura, no caso, são os retalhos de vidro resultantes da série Morfa, que aqui se tornam matéria-prima. “O caco, na minha concepção, é a feiura do vidro. Um vidro quebrado é sempre uma coisa que gera nas pessoas um sentimento de estranheza, de perda, então é algo que até o momento era uma coisa e deixa de ser para se tornar outra”, analisa. A ideia da mesa Caco é, então, expor essa “feiura”. Por isso, os fragmentos de vidro são deixados visíveis no produto acabado, como uma memória de sua existência prévia.

Ao contrário da série Morfa, que exibe o brilho e a perfeição das superfícies vítreas em linhas fluidas e suaves, a mesa Caco tem características antagônicas: o vidro é espesso, opaco e irregular. Aqui, a brutalidade dá o tom – mas só no que diz respeito às formas, pois a execução é um processo minucioso e trabalhoso, totalmente artesanal, que leva quase dois meses para se concluir.

Lucas participa bem de perto do desenvolvimento da mesa, em uma verdadeira imersão junto aos artesãos que a executam. “Na maioria das vezes eu produzo as primeiras peças com eles”, disse. “Eles nunca tinham feito mobiliário em vidro, então tem sido um aprendizado enorme desenvolver um fornecedor do início e atender um padrão de qualidade tão alto como o da Firma Casa”, completou.

Outro ponto bacana da fabricação: as peças são fundidas utilizando 100% de energia solar, reafirmando o compromisso do designer em unir tecnologia sustentável e produção artesanal local. A mesa será produzida em série limitada (4 tamanhos diferentes e tiragem de 8 unidades mais três provas de autor): “a mesa Caco realmente só vai existir conforme eu tiver esse refugo da coleção Morfa, que são os retalhos”, explica Lucas.

Incrível todo esse processo e a história da mesa Caco, mas preciso dizer que Lucas falhou miseravelmente no objetivo de expor a feiura – na minha opinião, ela mantém o registro da feiura com um resultado final de grande beleza e poesia.

Fotos: Romulo Fialdini (1 e 5) e acervo Lucas Recchia (2, 3 e 4)

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