London Design Festival 2020: designers criam móveis para a casa pós-Covid19

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Nove designers, um mesmo briefing – e resultados completamente diferentes entre si. Isso é design autoral! Trata-se do projeto Connected, promovido pela American Hardwood Export Council (AHEC), Benchmark Furniture e o Design Museum por ocasião do London Design Festival 2020.

Num cenário de pandemia, em que nosso modo de viver a casa mudou, nove designers foram convidados a criar uma mesa e assento que adaptasse à nova forma de cada um viver sua casa (e nela trabalhar). Os profissionais puderam escolher entre três tipos de madeira para trabalhar: carvalho vermelho, bordo ou cerejeira.

Os participantes vêm de diversos países. São eles: Ini Archibong (Suíça), Maria Bruun (Dinamarca), Jaime Hayon (Espanha), Heatherwick Studio (Reino Unido), Sebastian Herkner (Alemanha), Maria Jeglinska-Adamczewska (Polônia), Sabine Marcelis (Holanda), Studiopepe (Itália) e Studio Swine (Reino Unido/Japão).

“Comissionar nove designers para fazer móveis de madeira não soa como um briefing particularmente original. Mas estes não são tempos normais. Todos nós estamos sendo superexpostos às nossas casas e tendo que nos adaptar a novos padrões de trabalho. A pandemia forçou cada designer a abordar sua configuração de trabalho doméstico sob uma perspectiva completamente nova – do que eles realmente precisam? O projeto Connected foi uma rara oportunidade para os designers de projetarem para eles mesmos, mas o principal desafio é que eles tiveram que confiar inteiramente na comunicação digital. Não poderia ser mais relevante e estamos muito satisfeitos com os resultados”, declarou Justin McGuirk, curador-chefe do Design Museum.

O diretor europeu da AHEC, David Venables, completou: “Esta é uma evolução genuína na forma como funcionamos: os artesãos trabalharam incansavelmente com os designers em videoconferências para garantir que os detalhes exatos fossem atendidos. Isso prova que a quarentena não atrapalha a criatividade e a criação”. “No geral, o projeto mostrou que o processo de criação à distância funciona e há alguns benefícios claros em termos de pegada de carbono de um projeto, especialmente se você puder reduzir as viagens internacionais”, acrescenta Sean Sutcliffe, cofundador Benchmark Furniture, responsável pela execução das peças.

A seguir, mais detalhes sobre cada projeto.

The Kadamba Gate, por Ini Archibong (Suíça)

Cerejeira americana, carvalho vermelho e carvalho vermelho termicamente modificado

Tanto a mesa quanto o banco foram pensados como peças para ambientes externos. A mesa tem uma estrutura metálica que suporta o tampo, a qual é envolvida por peças de formato irregular em várias alturas e mesclando as diferentes madeiras. O tampo da mesa é laminado e usinado, com acabamento em epóxi brilhante colorido e detalhes em latão removível, que funcionam como drenagem para o ambiente externo. O banco usa uma construção semelhante à da mesa, com uma estrutura de metal revestida com extrusões esculturais de madeira. A parte superior tem uma sutil curvatura para drenagem e um assento removível de couro curtido vegetal com perímetro costurado, feito pelos especialistas em couro do Bill Amberg Studio.

Nordic Pioneer, por Maria Bruun (Dinamarca)

Bordo americano

Uma aula de design nórdico. Com sua pureza formal, as peças permitem que a atenção se atenha aos materiais e à construção do móvel em si. Um detalhe-chave do design é a precisa dobradiça de madeira que percorre toda a extensão da mesa, para levantar e soltar o tampo. Também chama atenção o contraste entre as formas arredondadas dos pés da mesa e dos assentos dos bancos empilháveis e as linhas rigorosamente retas da estrutura. O formato dos assentos dos bancos, aliás, destacam a beleza dos veios da madeira.

Mesamachine, por Jaime Hayon (Espanha)

Cerejeira americana

A Mesamachine (adoro os nomes dos produtos de Hayon) é composta por vários elementos que podem se conectar ou dividir, criando diferentes situações para atender a várias funções: trabalhar, brincar, comer e passar tempo em família. O designer diz que se inspirou num canivete suíço, no qual os elementos funcionais podem ser abertos e estendidos para servir a uma infinidade de funções. As várias soluções de armazenamento e prateleiras extensíveis funcionam em corrediças de madeira e exigem alto grau de precisão na fabricação. Dois banquinhos e um banco seguem uma linguagem de design semelhante, com rostos sorridentes recortados – o elemento lúdico, outra marca do designer.

Stem, por Heatherwick Studio (Reino Unido)

Bordo americano

A criação do estúdio comandado por Thomas Heatherwick celebra o poder da biofilia (ainda mais valorizado pelos habitantes urbanos durante a quarentena) ao incorporar vasos na estrutura da mesa, formada por pernas esculpidas em CNC, que sustentam o tampo de vidro. Depois de passar três meses na mesma mesa usando videoconferência para se comunicar, o designer passou a sentir falta da natureza (quem não?) e também começou a ver o espaço ao seu redor como um miniestúdio – afinal, o que está atrás de nós e ao nosso redor agora está sendo visto pelo mundo. O projeto ainda inclui um assento estofado e uma estante (que não aparecem na foto), cujas estruturas seguem a mesma linguagem da mesa.

Stammtisch, por Sebastian Herkner (Alemanha)

Carvalho vermelho e bordo americano

Com uma forma orgânica e modular, o designer alemão quis criar uma paisagem onde os vários elementos de sua época se encontrassem. O nome Stammtisch pode ser traduzido como “mesa regular” – um espaço para amigos e familiares se reunirem todas as semanas. Destaque para o mix de materiais e acabamentos: a mesa é feita de carvalho vermelho clareado, com acabamento em óleo natural fosco. A bandeja grande é de bordo americano, defumada com amônia e com acabamento em óleo natural fosco. Os banquinhos e a bandeja menor são feitos de carvalho vermelho carbonizado. As bandejas correm nas reentrâncias do tampo, cuidadosamente moldado para permitir o deslocamento fácil das peças.

Arco, por Maria Jeglinska-Adamczewska (Polônia)

Cerejeira americana

O assento e a mesa são inspirados nas formas escultóricas e na arquitetura das abadias beneditinas. Com foco em uma curva proeminente, a mesa usa cerejeira americana com tábuas cuidadosamente combinadas e usinadas. A cadeira foi projetada para ser escultural e mimetizar as curvas do corpo. Embora pareçam estruturalmente simples, as escolhas construtivas mostram o grau de proficiência em manufatura.

Candy Cubicle, por Sabine Marcelis (Holanda)

Bordo americano

Em um gesto, o “escritório” da designer holandesa pode mudar do “modo de trabalho” para o “modo camuflado”: com um elemento de surpresa no interior – o acabamento amarelo vívido, inspirado na cena da mala de Pulp Fiction. As superfícies externas são revestidas com bordo americano na cor natural (com acabamento em óleo incolor). O interior – que possui compartimentos para livros e um computador e abriga um banco e um gaveteiro – é revestido com o mesmo folheado de bordo, mas acabado com uma laca translúcida amarela de alto brilho, polida à mão.

Pink Moon, por Studiopepe (Itália)

Bordo americano

Inspirado na Lua Rosa da primavera, o projeto da dupla Arianna Lelli Mami e Chiara Di Pinto brinca com a ideia de ciclos de renovação e novos começos. O conjunto é marcado por detalhes contrastantes de marchetaria nas pernas da mesa, pelo tampo de formas orgânicas e pelas cadeiras que ostentam a “lua rosa” suspensa sobre uma estrutura inspirada em Charles Rennie Mackintosh. Esta peça circular foi usinada em duas metades, perfurada para aceitar as pernas traseiras e, em seguida, tingida – quando as duas metades são unidas, uma junção perfeita é criada.

Humble Administrator’s Chair and Table, por Studio Swine (Reino Unido/Japão)

Carvalho vermelho e cerejeira americana

O Studio Swine projetou uma mesa e uma cadeira inspiradas nos jardins tradicionais chineses e no arquétipo da cadeira Ming. O assento e a perna traseira das cadeiras foi feito em cerejeira americana, enquanto pernas dianteiras, braços e encosto foram executados em carvalho vermelho americano curvado a vapor. Como os braços se curvam em dois eixos, a execução da moldagem a vapor foi complexa, exigindo uma equipe de seis artesãos e um gabarito especial. A mesa usa cerejeira americana maciça, deixando o topo do perfil da perna visível no tampo.

(Fotos: David Cleveland / divulgação)

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