
Abriu hoje ao público, no Museu do Ipiranga, a exposição “Design e cotidiano na coleção Azevedo Moura”, com curadoria de Adélia Borges. São 930 objetos reunidos ao longo de mais de seis décadas pelos arquitetos gaúchos Calito e Tina Azevedo Moura — móveis, utensílios domésticos, brinquedos, ferramentas, fotografias, materiais gráficos — produzidos por imigrantes alemães e italianos que se estabeleceram no sul do Brasil entre a segunda metade do século 19 e o início do século 20.
“A imigração alemã ao Brasil teve início em 1824, há 201 anos; a italiana, há 151 anos. A exposição traz à luz alguns aspectos de suas contribuições ao caldeirão étnico brasileiro”, diz Adélia. O recorte valoriza a produção manual e os vínculos afetivos que construímos com os objetos corriqueiros. É um design que nasce da necessidade e das histórias entrelaçadas no cotidiano de quem precisou refazer a vida em terras desconhecidas.

Em vez de peças “de vitrine”, encontramos artefatos moldados com a madeira disponível, com as ferramentas possíveis, com os gestos aprendidos e adaptados à nova realidade. Cada móvel ou utensílio carrega consigo uma dimensão simbólica que resiste ao tempo — seja por sua função, seja pela memória que carrega.
Dividida em núcleos temáticos, a mostra percorre aspectos como habitação, religiosidade, culinária, trabalho e infância, revelando como o ordinário pode ser extraordinário quando visto com atenção. E, ainda, como o ato de colecionar é uma forma de “contar o mundo” — um mundo no qual o valor das coisas não está no quanto custam, mas no quanto dizem.



“Ao explorar diferentes feições que a mesma tipologia de objetos pode ter, a mostra permite constatar que a forma segue não só a função, mas também a cultura, o tempo, o lugar e os desejos e sonhos das pessoas que criaram esses objetos”, pontua a curadora.
Em tempos de hiperconsumo e obsolescência programada, vale visitar a exposição com tempo e atenção. Em vez de apenas corrermos atrás do inédito, talvez valha a pena abrirmos nosso olhar também para aquilo que resiste.

Adélia Borges nos lembra que esta coleção não deve ser entendida como um retrato completo da população imigrante no Sul do Brasil, nem como algo exclusivo a ela. Não só porque toda coleção está sujeita ao olhar subjetivo do colecionador, mas também porque muitos dos objetos expostos têm paralelos em outras culturas rurais da mesma época. Além disso, a história da região é marcada por complexos encontros e apagamentos: do etnocídio dos povos originários à presença de africanos escravizados e de outros imigrantes europeus, como espanhóis, poloneses e ucranianos. “Qualquer narrativa sobre o Sul permanece incompleta sem reconhecer essa pluralidade”, reforça a curadora.


A mostra fica em cartaz até 28 de setembro, com entrada gratuita, no salão de exposições temporárias do Museu do Ipiranga (Rua dos Patriotas, 100), em São Paulo.

Design e cotidiano na coleção Azevedo Moura
Coordenação museológica e produção: Expomus
Curadoria: Adélia Borges
Assistência de curadoria: Jaine Silva
Projeto expográfico: Tina Cuervo Moura, Lui Lo Pumo e Ana Paula Gallarraga
Comunicação visual: Ana Heloisa Santiago e Meire Assami
Fotos: Hélio Nobre / divulgação