E se a gente escolhesse honrar o tempo ao invés de tentar vencê-lo? Impossível não se fazer essa pergunta ao conhecer o ambiente criado por Alexandre Rousset e Ana Vaz na CASACOR Minas a convite da jornalista Natália Dornellas, fundadora da ONG Avosidade. A mostra se encerrou ontem, mas você pode “visitar” esse espaço aqui, nas belas imagens captadas por Jomar Bragança e pelo Studio Tertúlia.
A ideia da Avosidade é utilizar a comunicação positiva e a cultura para promover a valorização dos idosos. “Quero falar da velhice com cor e alegria. Falar de vida e não de doença, de finitude, que está aí pra todo mundo”, disse Natália em matéria recente ao Estado de Minas. Um espírito que se traduz em mantras como “Só fica velho quem viveu” e “Velho é o jovem que deu certo”. Achei inspiradíssimo!
E nessa mesma toada, Alexandre e Ana idealizaram um espaço que fala do passar do tempo de uma forma muito sensível e amorosa. Um espaço imersivo que, como bem define Natália, “é um afago na memória afetiva, uma viagem onírica às casas de nossos avós.” Móveis vintage, vasos com flores “colhidas no quintal” são alguns dos elementos que remetem a essa atmosfera – destaque para a instalação têxtil Permeável, que, como uma membrana, envolvia a entrada do espaço e criava uma espécie de “portal do tempo”. Ao fundo, o painel de Gustavo Brito colore o espaço e passa a mensagem: “Honrar o tempo”.
“A humanidade alimenta um desejo, permanente, de controlar o tempo. O viver parece estar incansavelmente ligado a um empenho, sempre vão, de regular, dominar, conter, refrear e vencer as horas, os dias, os anos… A mesma impossibilidade se coloca, para nós, na construção deste espaço, pois, esta é uma tentativa nossa de narrar o tempo, como se fosse possível condensá-lo na concretude das materialidades”, conta Alexandre Rousset, sobre as motivações do projeto.
“Um jardim [de Felipe Fontes] inaugura este percurso — como promessa de futuro — e, a partir daí, um caminhar se desenvolve no interior de um universo fértil e potente. Ao final da travessia, um círculo, povoado de referências à maturidade, se oferece ao visitante como um lugar precioso a ser reconhecido e ocupado”, completa Alexandre.
A instalação têxtil Permeável, criada por Ana Vaz, é fundamental para criar a atmosfera onírica e imersiva do espaço. “A ideia é que essa trama servisse como um receptáculo, um útero, um envoltório; um lugar de travessia de geração e de vida, de histórias e de experiências.” A trama era também o suporte para uma videoinstalação: recebia projeções visuais que interagiam com o áudio contendo depoimento de idosos contando sobre a vivência na velhice.
São 52 m2 de tramas feitas à mão, ponto por ponto, em crochê, “essa técnica que permeia a vida de tantas pessoas, e tantos mais velhos”, pontua Ana. “E o material pra trazer esse aspecto meio etérico, com um pouco de transparência e um pouco de presença, eu trabalhei com a linha de pesca e também o fio de linho natural num off-white. Foi um trabalho de mais de três meses muito intensos de construção”, completa a designer têxtil.
Sensibilidade e poesia que embalam um convite para repensar a forma como encaramos o passar do tempo — e, consequentemente, a velhice.
FICHA TÉCNICA
Espaço Avosidade na Casacor Minas 2024
Argumento: Alexandre Rousset, Ana Vaz, Natalia Dornellas
Arquitetura e cenografia: Alexandre Rousset, Ana Vaz
Instalação têxtil: Ana Vaz, com assistência de Jacqueline Almeida
Obra “Festejar as estrelas”: Gustavo Brito | Pé de Pavão
Instalação audiovisual: Marcelo Belém
Música original “Casa de vó”: Pablo Bertola, Pitágoras Silveira
Paisagismo: Felipe Fontes
Coleção vasos cerâmicos: O Ateliê de Cerâmica
Acervo mobiliário: Pé Palito Vintage
Tapetes: Marie Camille
Marcenaria: Top Móveis
Gesso: TecnoDry
Equipamentos projeção: Live Automação
Vidros: Divinal
Tintas: Coral
Fotografia: Jomar Bragança, Studio Tertulia
Agradecimentos: Ana Tereza Carneiro, Auíri Brasileiro, Cidoca Nogueira, Helena Santos, Henrique Miura, Júlia Medeiros, Júnia Pinheiro, Liliane Rebehy, Luiz Henrique Vieira
