Terceira década do século 21… e muitos desafios. O futuro ‘a la’ Jetsons parece muito distante e o presente pede por uma ação feita em esferas diversas para um futuro mais sustentável. Não por acaso, biomateriais, soluções de design circular, ressignificações de conceitos, modos de fazer, produtos e consumo vêm ganhando espaço em feiras, mostras e festivais de design.
Em abril, a Semana de Design de Milão teve em sua programação a oitava edição da Masterly, com 85 participantes, refletindo sobre o design com foco em produções e propostas holandesas. Foi o segundo ano no Palazzo Giureconsulti, com instalações que se fundiam à arquitetura do espaço histórico. A jornalista, arquiteta e curadora Winnie Bastian estava lá e apontou alguns highlights sobre essa nova materialidade em busca da sustentabilidade. O Design do Bom traz, agora, um pouco mais sobre cinco projetos que aguçam a nossa forma de ver e experimentar uma nova proposta para desafios impostos pelo presente.
Bar Infinite, Aectual + Philips
A Aectual (@aectual) se uniu ao MyCreation (@philipsmycreation), da Philips para desenvolver o Bar Infinite, uma instalação impressa em 3D que serviu como pavilhão, estrutura luminosa e bar durante a Semana de Design de Milão. Mas não só: a proposta era gerar discussões sobre a (re)utilização em infinitas possibilidades e esferas de materiais.
A estrutura foi inteiramente feita a partir da reciclagem de resíduos – entre os quais – 30 mil embalagens cartonadas de bebidas, em uma lógica de circularidade e criatividade, os ‘C’ dessas palavras estava ostensivamente disposto ali, dando forma ao espaço. Assim como as mesas Infinite Desk, pensadas parar serem personalizadas, geradas digitalmente e levar estruturas feitas com embalagens e tampos de madeira, também feitos com resíduos.
Na iluminação, assinada pela Philips MyCreation + Basten Leijh Design Studio, a aplicação da impressão 3D repete o constructo do espaço como um todo, que, nas partes teladas, teve como base o plástico reciclado de origem vegetal, já utilizado anteriormente em diversas feiras. Para arrematar, cada um dos produtos poderia ser devolvido a Aectual e re-re-re-[…]-re-reutilizado, enfatizando a lógica circular.
Icons Re/ Outfitted, The Visionary Lab + Vitra + Levi’s
Resíduos têxteis e a narrativa da moda não precisam ser antagonistas, como aponta o projeto capitaneado pelos criativos do The Visionary Lab (@the_visionary_lab) em uma collab com as gigantes Vitra (@vitra) e Levi’s (@levis). O projeto Icons Re/ Outfitted propõe a revisitação de móveis que marcaram a história do design através do uso da tecelagem digital 3D, do desenvolvimento de novos biotêxteis e transformando de jeans descartados em revestimentos luxuosos.
Em colaboração com artistas e designers – Barbara Polderman, Hannah Brabon, Kelly Konings, Nkwo Onwuka, Norman Monsanto, Sarmite Polakova, Sophie Cagniart e Tim Dekkers – peças da Vitra como as cadeiras Panton (Verner Panton – 1967), Eames Shell e Wire (ambas, Charles e Ray Eames, 1950-1) e Belleville (Ronan & Erwan Bouroullec, 2015) tomaram para si elementos da artesania japonesa e africana, técnicas de bordado, estéticas esculturais e desconstruções baseadas nos material dos jeans Levi’s. Em um manifesto que nos chama a repensar o que convencionamos resíduo e os impactos ambientais.
Plissade, Fenna van der Klei
A recuperação de técnicas antigas do plissamento se aliou a uma proposta inovadora nas divisórias Plissade, desenvolvidas pela artista e designer Fenna van der Klei (@fennavanderklei). Sem aglutinantes ou adesivos, a estrutura é feita exclusivamente de tecido, com ‘dobraduras’ que a tornam autoportante.
No projeto, o estúdio da artista presta uma homenagem à tradição têxtil de Rotterdam, Holanda, onde está inserido. O algodão orgânico e o feltro 100% reciclado são unidos pela artesania complexa e geram estruturas circulares, onduladas, com propriedades acústicas, possibilidade de personalização dentro dos limites de 200x275x4 cm, fácil mobilidade e cuidado estético maximizado pela escolha cromática e ótica.
Obra de arte utilitária, cada Plissade é assinada e numerada e leva a quentura das tessituras aos espaços arquitetônicos: lançada oficialmente durante a Semana de Design de Milão, na mostra Masterly, conquistou em janeiro o prêmio Pure Talents, da IMM Cologne, na categoria Lifestyle and home living as a statement/message/concept – Objects.
MyCotex, Neffa
A Neffa – New Fashion Factory (@neffa_nl) é um projeto de Aniela Hoitink e Nicoline van Enter. Aniela é estilista e viu, ao trabalhar em grandes corporações, os problemas da cadeia de produção da moda e decidiu propor soluções que culminaram no sistema de fabrico NEFFA. Em Milão, MyCotex foi a expressão materializada de anos de pesquisa – e prêmios, trazendo um biocouro produzido a partir do micélio – a parte germinativa dos cogumelos – que permite personalização pela impressão 3D.
O material e sua aplicação prometem reduzir custos, desperdício, substituir plásticos e couros por um equivalente compostável e sem origem animal e que pode ser tão ou mais confortável ao usar. O extra ainda é dado para o acabamento refinado e com aspecto sutil, adaptável a formas, recortes e usabilidades.
Roots Foundation
A exposição ROOTS (@rootsfoundation_nl) organizada pela designer Simone van Es dentro da Masterly, em Milão, enfatiza o compromisso com o presente e o futuro acerca das questões ambientais e “celebra a beleza intrínseca da terra e a importância das suas raízes (daí o título)”, como indica o material de divulgação da mostra holandesa.
Trazendo uma mensagem urgente que oferece a estética do belo e a esperança, nove artistas e designers – Claudy Jongstra, Diana Scherer, Ian Skirvin, Iris Veentjer, Machiel Hopman, Ori Orisun Merhav, Simone van Es x ROOTS lab, Sina Dyks e Theo Rekelhof – exploram biomateriais e o design circular em busca de inovações sustentáveis. As propostas partem de elementos como estrume de cavalo, borra de café, linho, cascas de maçã e resíduos de girassóis e investigam a origem, tipos de solo, oportunidades e novos materiais e seus impactos.
Farming Textiles – a obra escultórica de Diana Scherer -, por exemplo, foi cultivada para a exposição e expõe tecidos especiais que surgem como resultado de processos naturais de crescimento. As raízes seguem um padrão desenhado pela artista e buscam questionar nossas possibilidades, relações e limitações que nós temos ao tentar controlar a natureza.
Por Daiana Dalfito
(Crédito de imagens: Cortesia Masterly + Reprodução @carlofranzato)