Designer, artista, artesão? Morito Ebine é um misto de tudo isso, mas se autodefine puramente como “um artífice da madeira”. A atitude pode soar apenas humilde, mas na verdade reflete uma característica importante deste japonês radicado no Brasil: o respeito profundo por seu ofício e pela matéria-prima em si.
Reconhecido dentro e fora do país por sua maestria no trato com a madeira e pela originalidade de suas criações, Morito é considerado um mestre na complexa arte dos encaixes, que permitem uma junção robusta dos elementos sem o uso de cola ou parafusos. Mas se a execução impecável logo vem à mente quando falamos de sua produção, vale lembrar de um outro elemento chave em seu trabalho: o tempo – sim, ele mesmo, e em dose tripla.
A começar pela técnica em si: o uso de encaixes para a execução de móveis e artefatos em madeira é uma tradição milenar japonesa, e Morito parte dela para criar seus móveis contemporâneos.
Já a segunda “dose” tem a ver com o desejo de criar itens duráveis. “Se a árvore demora 100 anos ou mais para crescer, temos que fazer móveis que durem pelo menos esse tempo”, argumenta Morito. Por isso a escolha de trabalhar com encaixes: como a madeira é “viva” e se movimenta continuamente, o fato de não haver outros materiais na peça faz com que esse movimento seja harmônico, resultando num móvel mais durável.
E a dose final tem a ver com o ritmo adotado por Morito, mais lento, respeitoso e contemplativo do que aquele com que estamos acostumados – em nome do aperfeiçoamento contínuo, o desenvolvimento de uma peça pode levar anos. Uma postura que faz todo sentido nesse momento e vem se provando cada vez mais necessária, no trabalho e na vida.
Detalhe do banco Parafuso Banco Parafuso Detalhe da cadeiras Saci (em primeiro plano) e do banco Parafuso (ao fundo)
Cadeira Duo Cadeira Duo (detalhe)
Cadeira Saci (detalhe) Cadeira Saci
Nesta DW! – Semana de Design de SP, Morito foi homenageado pela Feira na Rosenbaum e eu tive o prazer de mediar um bate-papo muito gostoso entre ele e outros designers-artesãos da madeira.
Fotos: Valentin Studio (ambientadas) e divulgação / cortesia Feira na Rosenbaum