Promover o encontro entre materiais tão diversos entre o barro e a resina — o primeiro, natural, opaco e áspero; o último, sintético, transparente e liso. Brincar com a natureza do bule clássico: dar-lhe alças ou bicos extras, fora de posição… Essa liberdade no criar me chamou atenção neste trabalho desenvolvido por Marcus Camargo e a artesã Luiza Pessoa, do projeto Mulheres Coralinas, da Cidade de Goiás, terra natal do designer/artista.
As peças “podem ser usadas como escultura ou adorno ou também como vasos. Não indicamos para uso no fogo ou para servir bebidas, a não ser que feche os olhos e embarque conosco nesse chá direto do fantástico mundo dos devaneios artísticos”, brinca Marcus.
Os bules estão sendo lançados na Feira na Rosenbaum, que começou hoje, juntamente com as outras peças que compõem a coleção Coralinas: espelho/centro de mesa e potes, todos pertencentes à mesma coleção, chamada Coralinas.
O espelho/centro de mesa, surgiu a partir da combinação entre os pratos que já eram feitos por Luiza Pessoa e miçangas de barro que também caracterizam o trabalho da Luiza (mas aqui entram de forma escultórica, como se fossem um terço). “Um convite à contemplação do nosso olhar interno e externo, um encontro com as nossas raízes, uma oração”, conceitua o artista.
O pote, por fim, resulta da junção entre os potes funcionais da artesã Izabel Ferreira (“subidos” manualmente, sem o uso de torno) com as esculturas realistas da artesã Laura Vieira (que retrata com o barro personagens da Cidade de Goiás). “Uma procissão de personagens, uma ciranda vila-boense, valorizando vultos reconhecidos, como Cora Coralina, Leodegária de Jesus, Maria Grampinho, ao lado de pessoas comuns do povo”, conta Marcus.
No fim, a riqueza da coleção Coralinas reside, a meu ver, justamente em seu caráter híbrido. Uma grande fusão de objetos, materiais, saberes e vivências. Viva!
Fotos: Marcus Camargo