Alegria — eis o sentimento que me bateu instantaneamente ao olhar esse trabalho (abaixo) da gaúcha Mylene Rizzo, intitulado Sorriso em Flor. A intensidade do sorriso da menina — que vendia balas e, ao ver aquela fotógrafa dentro do ônibus, acenou com vivacidade —, o brilho no seu olhar, e a “chuva” de flores coloridas, bordadas por Mylene, fazem um conjunto não só capaz de atrair e fixar o nosso olhar, mas também de transmitir uma sensibilidade muito bem-vinda, especialmente nestes tempos tão estranhos.
Curiosamente, essa peça é fruto da quarentena. Ela me contou que a ideia de trabalhar as fotos com o bordado surgiu há cerca de um ano, mas que, por ser um processo demorado, o projeto acabou sendo deixado de lado. Eis que, no dia 18 de março, Mylene desembarcou no Brasil em plena pandemia, vinda de uma viagem à Índia — professora de história da arte, há cerca de 15 anos ela faz viagens ao exterior com grupos interessados no tema no projeto Viajando com Arte.
Revendo as fotos da viagem, resgatou a antiga ideia. “Parece que aquilo brotou de dentro de mim”. Mandou imprimir as fotos em canvas, começou a fazer testes, tentou bordar nas fotos coloridas, não gostou muito do resultado. Resolveu tirar a cor para dar mais expressividade… e assim surgiu a série “Índia, paradigmas da beleza”, à qual pertence esse trabalho. (A seguir, mostro outras imagens da mesma série)
A série ainda está em andamento — e Mylene, autodidata no bordado, vai aprendendo ao longo do processo. Um processo repleto de afetividade, já que nele, consegue unir diferentes heranças familiares: sua mãe tricota e borda, sua avó materna era costureira e a paterna nutria grande interesse por jardinagem — “ela me ensinava o nome de cada flor, qual tipo dava em cada estação, essas coisas”.
Eis que, em meio à pandemia, Mylene encontrou uma forma particular de expressão: “O bordado preenche a foto e me preenche por dentro também”. Eis aí mais um motivo (ainda que invisível) para que esse trabalho transmita alegria. Inspirador ou não?