A um primeiro olhar, são dois relógios, grandes e reluzentes. Chegando mais perto, o espectador é seduzido pelo reflexo da superfície espelhada, até que, então, percebe que, em um deles, os ponteiros giram no sentido anti-horário. Intrigante? Sim, essa é exatamente a intenção do designer José Marton ao criar essa série, batizada de Tempo Editado, que vai ser apresentada na SP-Design, novo setor dedicado ao design dentro da próxima SP-Arte, que acontece de 7 a 10 de abril na Bienal do Ibirapuera, em São Paulo.
A ideia dessas peças, nas quais o design flerta com a arte, é questionar as noções de realidade, de tempo e de espaço. “O tempo é a questão mais preciosa que nós temos hoje – é o que todo mundo quer ter e é impossível, porque cada dia ele se torna mais escasso”, avalia Marton.
Cada peça é constituída por um par de relógios: o da esquerda funciona da forma convencional, enquanto no da direita, os ponteiros giram no sentido anti-horário, como que buscando distorcer a realidade, ou recuperar um tempo que é, na verdade, irrecuperável. Os ponteiros, por serem transparentes, contribuem nesse sentido, já que distorcem a imagem refletida à medida que se movimentam. “Então, a cada minuto a sua imagem é outra – e você também não é mais a mesma pessoa, você está um minuto mais velho. O tempo passou… Enquanto você se observa, o tempo passa, você perde o tempo. Ou você ganha um tempo se observando”, filosofa o designer e artista.
As peças serão produzidas em três versões – prata, bronze e fumê –, que representam três frações do dia (manhã, tarde e noite, respectivamente). Cada versão tem edição limitada a 6 peças, também representando uma fração (60 minutos). A própria dimensão dos relógios (1,20 m de diâmetro), representa uma fração do dia, 12 horas.
Como parte do projeto, Marton também lançará uma edição de 24 pares com 48 cm de diâmetro, que serão vendidos em caixas de pizza. “Aí eu busco entregar esse tempo numa medida menor… uma relação de tempo que é até irônica, como se eu vendesse o tempo numa caixa, sendo entregue por mim ou por qualquer outra pessoa”, conta. Delivery de tempo? Não seria má ideia…