Sob o traçado curvo de Oscar Niemeyer (1907-2012), parte da programação da 2ª edição da BDW – Semana de Design de Brasília (@bsbdesignweek), de 04 a 11 de julho, esteve reunida no Museu Nacional da República.
O festival, correalizado pela Abimóvel – Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário, é o ápice do Movimento Brasília Cidade do Design, lançado em novembro de 2023, com um programa estendido de atividades no correr do ano, que reverbera as iniciativas criativas da cidade. A BDW já acabou, mas as exposições que destacamos aqui, no Design do Bom, continuam abertas ao público até dia 04 de agosto.
Identidade pelo design
Sob curadoria dos designers Nina Coimbra e Dimitri Lociks, as mostras ‘Onde o Plano Encontra a Margem’ e ‘Conexão Brasília’, respectivamente, trazem panoramas da identidade cultural brasiliense por meio do design, de modo a instigar novas perspectivas sobre a cadeia criativa no Distrito Federal.
Segundo Nina, o recorte curatorial de ‘Onde o Plano Encontra a Margem’ buscou o enfoque no que é diverso, sustentável e representativo da “identidade brasiliense no design com todo seu sincretismo e, também, na mistura das manifestações culturais brasileiras”.
Entre objetos, mobiliário, peças gráficas e de moda autorais e desenvolvidos pela indústria nacional de 2022 a 2024, as matérias-primas e os processos manifestam a consciência dos desafios ambientais e sociais do Brasil e de Brasília. As obras selecionadas são assinadas por Thaís Fread, Quina Azulejaria, Jahara Studio e Alan Chu, entre outros.
Nina ainda é responsável, ao lado de Ludmyla Castro e Moura, pelo projeto ‘COLLABDW’, que reúne parcerias propostas pela curadora a designers e artesãos do DF. “A ideia é que, com diferentes técnicas, fossem criados produtos finais que mostrassem pra gente toda a possibilidade do encontro entre esses agentes criativos”, explica ela a Winnie Bastian, que esteve ‘in loco’, acompanhando a BDW. Também no Museu, a mostra apresenta os produtos das collabs acompanhados de vídeos acerca dos processos criativos colaborativos, com assinatura da Claraboia Filmes.
Conexão Brasília
Por sua vez, ‘Conexão Brasília’ traz o papel estratégico do design, revelando a capital do país como um ponto de partida para iniciativas do setor que impulsionam a economia nacional. Em parceria com a Abimóvel, o curador Dimitri Lociks criou um retrato das diferentes possibilidades de fomento ao design em duas frentes.
A primeira promoveu ações de capacitação para micro e pequenas indústrias moveleiras e, no que tange à mostra, o foco foi dado a ações de promoção da excelência do design brasileiro para o mercado externo, a partir da participação brasileira na Semana de Design de Milão, nesse ano. Nesse contexto, a expografia de Gero Tavares abriga criações de nomes consagrados como Sergio J. Matos, Brunno Jahara e Jader Almeida ao lado de talentos emergentes, a exemplo de Rafaela Gravia e João Demele.
Tais escolhas entremeiam as ações do Projeto Brazilian Furniture, da Abimóvel em parceria com a ApexBrasil – Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos e peças resultantes do PDCIMob – Projeto de Desenvolvimento, Competitividade e Integração da Indústria do Mobiliário. Esta, uma iniciativa da Abimóvel em conjunto com o Sebrae – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas voltada à inclusão do design nas micro e pequenas empresas do setor.
Tocantins na Capital Federal
Mais uma exposição de destaque durante a BDW foi ‘Jalapoeira Apurada’, que reúne trabalhos desenvolvidos pelas mulheres de três associações quilombolas – Associação Comunitária dos Artesãos e Pequenos Produtores de Mateiros, Associação de Artesãos e Extrativistas do Povoado do Mumbuca e Associação Quilombo do Prata – do Jalapão, no Tocantins, feitos com capim dourado e buriti.
No projeto, desenvolvido pelo Instituto A Gente Transforma em parceria com a WWF, Marcelo Rosenbaum e as artesãs cocriaram cestarias e esculturas em grande formato. As peças fazem uso de técnicas passadas de geração em geração e materiais tradicionais, mas são inovadoras em suas concepções, mantendo vivo o fazer coletivo e os saberes ancestrais e, ao mesmo tempo, olhando para novas possibilidades de mercado para as artesãs.
Antes apresentada em Palmas, capital do estado na região Norte, e uma das atrações da última DW! Semana de Design de São Paulo, ‘Jalapoeira Apurada’ esteve aberta ao público durante o festival de design brasiliense, no Anexo do Museu Nacional da República.
Brasília, Cidade Criativa
Desde 2017, a Capital Federal é reconhecida pela Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura como parte da Rede Cidades Criativas. Com o título ‘Cidade Criativa do Design’, Brasília foi escolhida por atender ao “compromisso com a cultura e a criatividade como parte de suas estratégias de desenvolvimento e por apresentar práticas inovadoras de planejamento urbano, centrado no ser humano”, propostos pela Unesco.
Atualmente, 350 cidades em mais de 100 países compõem a Rede com foco em sete esferas da criatividade: Artesanato e Arte Folclórica, Design, Cinema, Gastronomia, Literatura, Mídia e Música. No Brasil, além de Brasília, outras 13 cidades fazem parte da iniciativa: Artesanato e Arte Popular – João Pessoa/ PB; Artes Midiáticas – Campina Grande/ PB; Cinema – Santos/ SP e Penedo/ RJ; Design – Curitiba/ PR e Fortaleza/ CE; Gastronomia – Belém/ PA, Belo Horizonte/ MG, Florianópolis/ SC e Paraty/ RJ; Literatura – Rio de Janeiro/ RJ; Música – Recife/ PE e Salvador/ BA.
A Rede Cidades Criativas ajuda a implementar parte dos compromissos da Agenda 2030 da ONU (Organização das Nações Unidas) para o Desenvolvimento Sustentável por meio da cultura. Também incentiva a cooperação entre cidades que reconhecem o fazer criativo como uma das estratégias para o desenvolvimento econômico, social, cultural e ambiental.
(texto: Daiana Dalfito; fotos: Winnie Bastian – Design Do Bom; Divulgação e Wikimedia Commons)