De um lado, um desenho pautado pela simplicidade extrema. De outro, uma execução complexa e desafiadora, que demandou 12 protótipos e 8 meses para se chegar à solução final. Do equilíbrio dessa equação surge o aparador Crista, projeto do estúdio FGMF (de Fernando Forte, Lourenço Gimenes e
Rodrigo Marcondes Ferraz) com direção criativa de Gabriel De La Cruz Mota e colaboração de Lucas Lima e Vitor Lucena.
Feito em vidro termofundido, ele se destaca pela ondulação do tampo, como se este reagisse aos dois apoios que o ancoram. A forma concisa, forte e expressiva é resultado de um gesto simples: a rotação das duas pernas para criar uma estrutura estável e que dispensa travessas. As linhas minimalistas aumentam o protagonismo do material, o vidro de aspecto “congelado”.
Gosto de ver projetos como esse, que desafiam os limites da matéria para chegar a resultados inesperados. Aqui, é importante dizer que, para que casos assim aconteçam, além de designers criativos e inquietos, é fundamental que exista a parceria do cliente e/ou da indústria. Dessa vez houve o apoio de ambos: o cliente, morador de um apartamento em Higienópolis que topou esperar 8 meses para ter o produto pronto, e o desenvolvedor, a Glass Onze, de Mateus Primo. “Mateus foi super parceiro, comprou a ideia da investigação, se envolveu e topou fazer todos os protótipos que foram necessários”, conta Gabriel.
Vale ressaltar que a execução de cada peça seguia um protocolo com longas etapas. Primeiro, levava-se as placas de vidro a um forno de 1 metro de altura, onde permanecia por cerca de 8 horas a 1000 graus para derreter – sob elas, dois moldes de fibra cerâmica guardavam os espaços onde posteriormente seriam inseridos os dois apoios. Depois disso, o vidro ficava de 2 a 3 dias dentro do forno para esfriar devagar – o forno só era aberto depois que a temperatura dentro estivesse igual à do lado de fora. “É como fazer um bolo”, brinca Mateus – com a diferença de que, no caso do bolo, uma bolha ou uma pequena trinca na superfície não invalidam o resultado final (daí os sucessivos protótipos).
Embora tenha sido criado sob demanda de um cliente do FGMF, o aparador Crista agora está disponível para o público em geral. Por ora, a comercialização está acontecendo diretamente pelo próprio escritório – um canal definitivo para as vendas ainda está sendo estudado.
(Fotos: Pedro Ocanhas / divulgação)