A partir do normal, chegar ao extraordinário. Falar é fácil, fazer… já é outra história.
O designer Fernando Prado costuma conseguir essa proeza em seus projetos. O segredo, me parece, está sempre em um “detalhe” (em aspas mesmo, porque o que poderia ser um pormenor às vezes se revela o centro de uma solução projetual), alguma sacada construtiva ou funcional que tem o poder de conduzir o projeto inteiro.
É o que acontece com a cadeira Tubim, sua mais recente criação para a Dpot. A estrutura se resume a dois tubos metálicos que, ao serem curvados (e unidos por três travessas), dão forma a uma peça levinha, levinha.
“O projeto foi pensado para que os braços tivessem certo balanço. Para isso, optei por fixar a peça única em couro na parte inferior do encosto, deixando os braços livres para favorecer a leveza visual”, conta Fernando — cujo trabalho acompanho e admiro desde o início dos anos 2000, quando eu era uma jornalista iniciante e ele projetava “apenas” luminárias (e já faturava prêmios mundo afora).
Voltando ao projeto: a estrutura tubular e o assento em couro soltinho, fixado com a ajuda de tubinhos junto à estrutura principal, não são exatamente uma novidade (pense na Kilin, de Sergio Rodrigues, por exemplo). Nova, aqui, foi a maneira como Fernando explorou esses recursos: repare que o tubo que trava a membrana de couro no alto do encosto é curvo — e isso eu nunca vi!
Quando algo assim acontece, logo penso naquela famosa frase do Bruno Munari — “Das coisas nascem coisas”. Acredito que esse é o verdadeiro espírito: a partir da observação e da criatividade, transformar o que já existe em algo verdadeiramente novo.
(Fotos: Fernando Laszlo / divulgação)