Na semana passada, o ateliê dos irmãos Campana, em São Paulo, hospedou uma inusitada atividade criativa: a customização de capas para próteses de perna. O que isso tem a ver com design? Tudo! O bom design melhora a vida (de diferentes formas), e depois dessa iniciativa, o cotidiano dos participantes deste workshop conduzido por Humberto Campana certamente ficou bem mais interessante. Mas vamos começar do começo.
O ponto de partida para a oficina foi a Confete, primeira capa adaptável e colorida para prótese de perna produzida em massa no mundo, projetada pelo estúdio curitibano Furf, de Mauricio Noronha e Rodrigo Brenner, para a ID Ethnos, do Rio de Janeiro. O Brasil é o 4º país no mundo em número de amputados, o que torna esse produto ainda mais relevante.
As capas servem para dar volume às próteses, para que fiquem visualmente harmônicas em relação à perna não-amputada, mas muitas vezes apresentam problemas diversos. “Propostas existentes ou não são muito atrativas esteticamente (tentam imitar a pele), comprometem os movimentos da prótese ou em alguns casos são inacessíveis, geralmente produzidos por processos caros e sob medida. A Confete é fabricada em poliuretano para tornar o produto o mais econômico, adaptável e durável possível, com uma redução de custo de 80% em relação a outros similares no mercado”, explicam os designers. O produto é tão inovador que já faturou o Best of the Best do Red Dot Award e acaba de levar o Leão de Bronze na categoria Product Design no Cannes Lions – o primeiro prêmio brasileiro nesta categoria.
Além das várias opções de cores, a Confete tem linhas-guias internas que permitem o recorte com estilete, facilitando o ajuste da capa à altura do amputado. E os furos (em formato de confete, lógico!), além de deixarem a capa mais leve, podem ser usados para a customização. E é aí que entra a oficina promovida pelo Instituto Campana na semana passada.
Sob a orientação de Humberto Campana, sete pessoas customizaram as próprias capas usando diferentes materiais, como cordas, barbantes, tinta, pele de carneiro, feltro e couro. “O intuito era dar autoestima a eles, falar que [usar as capas de prótese] pode ser divertido, pode ser moderno… fazer uma coisa customizada, diferente, não ser igual a todos. Esse foi o início do pensamento, do conceito”, explica Humberto, animado com o resultado do workshop.
Ao final do processo, as capas, em vez de ser algo a ser escondido, passaram a ser exibidas orgulhosamente pelos amputados, que agora têm a opção de usá-las como meio de expressar sua identidade. Um feliz encontro entre o produto industrial inovador projetado pelo Furf e a criatividade do fazer manual que caracteriza o trabalho dos irmãos Campana.