A natureza tem servido de inspiração para designers e artistas há séculos. Mas agora três jovens criadores partem para uma abordagem bastante original e até curiosa, criando peças inspiradas em um fenômeno geológico: o processo natural de deposição que dá origem às rochas sedimentares.
Este tipo de rocha é o resultado da acumulação no solo, através do tempo, de diferentes materiais como partículas de pedras, lama, matéria orgânica, fósseis e carvão. Assim, elas são compostas por várias camadas, que podem ou não conter fósseis de animais e plantas.
O designer holandês Ruben de la Rive Box e a australiana Golnar Roshan, do estúdio londrino Rive Roshan, apresentaram este ano, em Milão, as primeiras peças da coleção Sediment Objects: duas mesas que incorporam aparas e peças encontradas de madeira, além de pedras do chão e pedaços de metal. Esses materiais são colocados em uma forma, que, então, é preenchida com diversas camadas de uma argamassa à base de resina acrílica, para fixar a madeira e formar uma peça sólida e durável.
“O projeto busca encontrar materiais feitos pelo homem como uma alternativa aos materiais raros e preciosos. Ao emular os processos aditivos da natureza, inclusões e formas com padrões randômicos, a noção da beleza natural é explorada”, explicam os designers, que se conheceram trabalhando no escritório de Marcel Wanders e hoje vivem em Londres.
Também radicada na capital inglesa, a sueca Hilda Hellstrom criou os primeiros vasos de sua coleção Sedimentation em 2012, e desde então vem desenvolvendo o processo, com o objetivo de tornar a produção seriada – atualmente, todas as peças são únicas. Em vez de usar partículas variadas, Hilda baseia a construção de sua matéria-prima exclusivamente na deposição de inúmeras camadas de Jesmonite, uma massa plástica de base acrílica, misturada com diferentes pigmentos em pó. Dessa maneira, surgem blocos de “pedra artificial”, que é, posteriormente, esculpida com o auxílio de máquinas controladas por computador e, finalmente, polida.
O resultado são peças que, apesar de terem o peso e o toque da pedra natural, exibem um padrão bem diverso, com camadas onduladas multicoloridas. “Alguns elementos do processo são firmemente monitorados, enquanto outros são mais acidentais, frutos do acaso”, revela a designer, que completa, com audácia: “A intenção não é criar uma cópia perfeita do que a natureza já fez, mas uma tentativa de, talvez, superá-la, criando algo ‘ainda melhor que a coisa real’”. Atrevida, a moça!