Já falei aqui antes do quanto gostei de visitar a Bienal Brasileira de Design em Curitiba. O resultado foi muito bacana e acho que o tema geral da Bienal – “Design, Inovação e Sustentabilidade” – também foi feliz. A começar por destacar a inovação, que é uma condição intrinsecamente ligada ao bom design (“o bom design é inovador”, já dizia – e ainda diz – Dieter Rams).
E a sustentabilidade? Expressão que é a “bola da vez”, item obrigatório em todo discurso marqueteiro (e em outros tipos de discurso também), como ela está sendo tratada no design brasileiro? “Desvendar os véus das interpretações rasas e das palavras vazias de significado para, por trás delas, encontrar exemplos de design sustentável nas várias regiões do Brasil contemporâneo foi a tarefa a que nos autoimpusemos nesta exposição”, afirma a curadora Adélia Borges.
É sempre bom lembrar que “sustentabilidade” não é só uma palavra mais pomposa para designar uma atitude ecológica. Um produto sustentável precisa atender a três requisitos: deve ser ecologicamente correto, economicamente viável e socialmente justo.
Os critérios balizadores para a seleção dos produtos foram estruturados em torno de três aspectos: materiais, processos e atitude. Com estas questões em mente, a curadoria elaborou uma série de perguntas que foram aplicadas aos designers e empresas cogitados para integrar a exposição.
O núcleo dos materiais foi o que obteve mais respostas no questionário. “À parte a confusão ainda existente – mas minoritária – entre o que é reciclado e o que é reciclável, assiste-se a um esforço de posicionamento a esse respeito”, conta Adélia. No caso dos processos, percebeu-se que muitas empresas buscam reduzir as sobras, buscando o “resíduo zero” (que, sabemos, não existe, mas é bom que sirva como meta). Já o último núcleo, o da atitude, foi onde a curadoria teve mais dificuldade de encontrar produtos. Isso “pode indicar que assuntos como o prolongamento do período de tempo de uso dos produtos, a instituição de sistemas de uso compartilhado, a utilização temporária dos produtos, a indução de atitudes ecológicas e o incentivo a novos valores de vida ainda não estão na ordem do dia dos designers”, apontou Adélia.
Que tal expandirmos o olhar e prestarmos atenção na atitude, essa componente tão importante no processo projetual? Muito se fala em design centrado no usuário, mas que tal usar o design para promover novas formas de comportamento? A ideia me agrada um bocado…
Um ótimo exemplo nesse sentido é trazido pelo fashion designer e artista Jum Nakao, que aboliu o uso de cartão de visita e substituiu-o por um carimbo (acima), que pode ser aplicado no suporte que estiver disponível na hora. E justifica sua escolha de uma maneira poética, como não poderia deixar de ser: “se o cartão é para trocar, melhor ainda se for participativo, interativo, intervirmos juntos em suportes, matérias-primas encontradas naquele instante, numa troca que contenha o rastro do momento”. Tudo de bom!!
A mudança de atitude também passa por uma ampliação do olhar, que se torna, então, capaz de enxergar a beleza (ou o potencial de criação da beleza) em lugares que antes seriam solenemente desprezados. É o caso da linha Troços (acima), desenvolvida por Leo Battistelli (RJ) a partir de peças com defeito da indústria cerâmica: a aplicação de grafismos (que não escondem nem ressaltam os defeitos, mas tiram partido deles) dá nova vida a bowls, pratos e objetos decorativos.
Outro exemplo é a Coleção Design Sustentável (acima), uma linha de acessórios criada por Angela Carvalho e Monica Carvalho (RJ) a partir de embalagens de cosméticos descartadas por salões de beleza. Segundo o catálogo da mostra, “o projeto do Instituto JC3 visa incentivar o associativismo e geração de renda para mulheres de comunidades populares da região de Vista Alegre, em São Gonçalo.”
O couro de peixe é outro material que atrás era desprezado e descartado, e hoje rende produtos bárbaros como esta bolsa da Osklen, aí embaixo.
Também aproveitando uma matéria-prima natural que normalmente acaba indo para o lixo, vale citar a miniluminária Ledeggs, de Levi Domingos. Construída a partir da casca do ovo (que é cortada e recebe 4 LEDs e outros complementos – como um peso na parte inferior, para mantê-la em pé), ela combina o natural e o artificial de maneira harmônica e divertida.
Uma nova aplicação para uma matéria-prima já bastante conhecida é o que propõe Paulo Pelá, do Bolaoito (RJ), com o projeto do Berço Esplêndido (abaixo). Executado em chapas de plástico microondulado (Polionda), o berço foi criado para abrigar bebês de até nove meses de idade em situações de emergência. Portátil e desmontável, acabou conseguindo mais um nicho de mercado: o de segundo berço para pequenos deslocamentos dos bebês (casa dos avós, a casa de praia, etc).
Outro projeto que facilita a vida do usuário é o PraLimão (abaixo), design do estúdio Tipo D (DF) a partir da ideia de Paulo Eduardo Dubiel. Uma espécie de cápsula em plástico macio recebe a fatia de limão e permite que o usuário esprema a fruta sem que o suco entre em contato com sua pele, evitando as queimaduras de pele. Esse fato, por si só, já seria genial, mas ainda tem mais: o uso do Pralimão faz diminuir o consumo de guardanapos de papel (que agora não são mais necessários para limpar o excesso de suco dos dedos).
Por fim, queria falar do Favo Verde, projeto de Eduardo Queiroz (AL), que também achei super bacana. Trata-se de uma estrutura para ser instalada em superfícies verticais, com nichos em forma de colméia nos quais podem ser plantados legumes, frutas ou flores. Os painéis são feitos a partir de cascas de coco, material que, além de abundante, é bem resistente à decomposição por ter grande quantidade de tanino (fungicida natural que protege as plantas de ataques de bactérias). Outra qualidade do projeto é que o processo produtivo é limpo, não gera resíduos (o designer projetou também o maquinário para a produção industrial do painel).
Há ainda vários outros produtos que eu gostaria de destacar, mas vou deixar pra um próximo post, pois já me alonguei demais por hoje… 😉
(Fotos extraídas do catálogo da Bienal, exceto a primeira e a última, que são @designdobom)
Excelente post!
Com relação a "Sustentabilidade" eu brinco dizendo que o Capital já abocanhou o termo que virou jargão de mercado. Mas quando Sustentabilidade é tratado com responsabilidade a história é diferente – como a Bienal que vc visitou, e é bom para oxigenar minhas idéias vê, ler, novidades relacionada a um bom desenho e meio ambiente.(Já que estou distante de centro urbano).
Bom fim de semana!
O pralimao é um projeto embasado na Administração Estratégica de Marketing, foi desenvolvido pela Peds Marketing Direto, patenteado pelo diretor Paulo Eduardo Dubiel, que criou a peça com o conceito de design simples, belo, moderno, funcional e cuidou de enquadrar o pralimao nas seis Forças Ambientais do Marketing, para ser uma megatendência de mercado. O pralimao teve a participação da Tipo D apenas no projeto de desenho industrial, ou seja, colocaram no programa nossa ideia.
Todas as etapas são importantes, sendo elas: Busca Isolada; Pedido de Patente; Pesquisa Exploratória por Observação, Documental, Entrevista, Experimentação; Construção do Projeto; Plano de Marketing; Fabricação/Injeção; Distribuição; Vendas.
O pralimao é a única solução para se espremer o limão à mesa, sem o contato com a fruta. Atende a todos os consumidores diretos e indiretos, de todas as classes sociais, idades, sexos; é utilizado para maior higiene, praticidade, estilo, etiqueta e para evitar queimaduras e atender pessoas com alergia ao limão.
É excelente no dia-a-dia! Principalmente para quem faz uso do limão na hora da refeição e gosta de presentear com novidades.
Está disponível no site: http://www.pralimao.com
Beatriz,
Obrigada pelo feedback! Assim como você, gostei de ver que a Bienal trouxe exemplos de produtos nos quais a sustentabilidade não é um mero "agregador de valor" (outra expressão já bem desgastada), mas sim um elemento balizador de projeto.
😉
Paulo,
Obrigada pelo esclarecimento. No catálogo da Bienal Brasileira de Design (fonte na qual me baseei para dar os créditos ao produto), a informação é de que a Peds é responsável pela produção do Pralimão e a Tipo D, pelo design. Já corrigi a informação no post com base nas suas informações.
A ideia é mesmo muito boa, e o produto tem muito potencial. Concordo com você que todas as etapas anteriores são relevantes, e acredito que o projeto de design também tem importante participação no resultado final.
Agradeço a correção, esclareço que o design é da Peds Marketing Direto e que a TipoD foi contratada para fazer o desenho industrial.
Inclusive foi oficiada a retirar as informações repassadas de forma errada aos veículos e demais órgãos.
Conto com o apoio de todos para que possamos defender o princípio da ética e da Propriedade Industrial!