Atelier Oï + A-POC Able Issey Miyake: luz, moda e design

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Há encontros que não apenas somam – eles criam algo novo. É o caso da colaboração entre o estúdio suíço Atelier Oï e a marca A-POC Able Issey Miyake, apresentada durante a Milan Design Week 2025. Batizado de TYPE-XIII, o projeto nasceu como uma conversa entre mundos: o da moda avant-garde desenvolvida por Issey Miyake e o do design preciso e sensível do trio fundado por Aurel Aebi, Armand Louis e Patrick Reymond.

Tive a oportunidade de conversar com Aebi, em São Paulo, dias após o lançamento da peça em Milão. E pra mim ficou claro: o TYPE-XIII é mais do que uma coleção de luminárias. É um manifesto silencioso sobre o potencial expressivo das matérias e sobre os gestos que as conectam.

O projeto é uma extensão natural da abordagem A-POC, idealizada por Miyake (em conjunto com Dai Fujiwara) no final dos anos 1990 como forma de pensar o vestuário de maneira alternativa. Na época, o A-POC (sigla para A Piece Of Cloth) revolucionava o processo de fabricação de roupas ao permitir a passagem direta do fio ao produto acabado, eliminando todas as etapas tradicionalmente necessárias na confecção de artigos do vestuário. “Um fio entra em uma máquina que, por sua vez, gera roupas acabadas utilizando a mais recente tecnologia computadorizada, eliminando as necessidades usuais de cortar e costurar o tecido”, explicou Miyake em matéria de Kazuko Sato publicada na revista Domus 828 (jul/ago 2000). As roupas eram “libertadas” do tecido pelo próprio usuário, ao cortá-lo nas áreas predefinidas.

O TYPE-XIII surge em um novo momento do A-POC, que agora conta com uma série de tecidos desenvolvidos por um time de engenheiros liderados por Yoshiyuki Miyamae. Estas tramas saem da máquina totalmente planas, mas se tornam tridimensionais quando expostas ao calor concentrado, num processo controlado com precisão. O ar quente ativa o relevo latente do material, fazendo com que a malha se curve e ganhe volume. O resultado são tecidos que parecem vivos – que se expandem, tensionam, flutuam. Aqui, quem libera o potencial oculto da trama não é a tesoura, mas o calor.

A O-Series, foco desta colaboração, é uma coleção de luminárias de mesa portáteis nas quais o tecido fica em evidência, suportado por uma delicada armação metálica de matriz circular. E é nesse momento que a inteligência construtiva brilha: a trama é fixada à estrutura por meio de ímãs: nada de costuras, parafusos ou encaixes rígidos. Isso permite que a montagem seja rápida, ajustável, quase lúdica – e que o tecido mantenha sua liberdade de movimento, exatamente como acontece nas roupas. E a luz percorre com leveza essa pele tensionada e escultórica, na qual moda, design e tecnologia não se sobrepõem, mas se entrelaçam.

Essa colaboração encarna um ideal que me interessa há tempos, e que já foi tema da minha dissertação de mestrado: o diálogo entre moda e design como campo de fertilização mútua. Aqui, a moda não é apenas referência estética, mas linguagem compartilhada. E o design ganha uma nova gramática: mais fluida, sensível e porosa. Projetos assim nos lembram do potencial que reside nas fronteiras entre as diferentes áreas – é nas margens, afinal, que a criatividade encontra um terreno fértil para florescer.

(Fotos: divulgação / cortesia A-POC Able Issey Miyake)

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