Há alguns dias, o designer Patrick Afornali entrou em contato comigo para contar sobre sua nova coleção Biomas, que busca inspiração na Caatinga, no Pantanal e nos Pampas. Curiosamente, as peças que mais me chamaram atenção estão ligadas à Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro (boa parte de seu patrimônio biológico não pode ser encontrado em nenhum outro lugar do planeta).
O primeiro é o vaso Mandacaru, que tem seu ponto de partida no cacto de mesmo nome — cuja origem vem do tupi mãdaka’ru ou iamanaka’ru, que significa “espinhos agrupados danosos” — e possui papel fundamental no ecossistema do cerrado. Segundo o designer, “O vaso Mandacaru incita a sobrevivência. O vaso cede a água, mas na condição de ficar aprisionado em suas agulhas. Inarredável, a flor permanece! Consente pela troca, pelo mutualismo”.
Feito de aço carbono com pintura eletrostática, o Mandacaru utiliza as agulhas com esferas maciças em latão ou aço inox para manter as flores no lugar. A água é colocada diretamente no interior do tubo pintado, que recebe uma camada de resina na parte inferior para aumentar a vedação e a durabilidade.
E o outro produto que me chamou atenção é o banco Sertão, que combina a estrutura em madeira e metal a uma tapeçaria em lã, desenvolvida em parceria com a designer têxtil Yala Fezer. A ideia é que as tramas espelhem o desenho do solo sertanejo castigado pelo sol, que forma uma espécie de mosaico. “Escolhemos as cores juntos e ela teve liberdade nos tamanhos formas e textura. Achei a combinação bem singular e não consigo mais ver o banco sem aquele detalhe”, conta ele.
Pensando bem, não foi por acaso que meus olhos se voltaram para a Caatinga de Afornali: me alegro ao ver nossos designers cada vez mais nutrindo sua criatividade com aquilo que é genuinamente brasileiro, da natureza à cultura. Viva!!
(Fotos: Camila Nemetz Kohler / divulgação)