Parece que estou fixada em cerâmicas… rs Mas como resistir? Se no post passado mostrei uma linha de cerâmicas criadas por cinco talentosas designers brasileiras, agora é a vez de apresentar o trabalho de Andile Dyalvane, um dos mais proeminentes ceramistas da África do Sul. Premiado com o Southern Guild Design Foundation Icon Award em 2014, o artista já realizou residências em várias cidades ao redor do mundo, e vem ganhando reconhecimento internacional – no ano passado, a galeria Friedman Benda de Nova York hospedou uma exposição individual dedicada ao seu trabalho.
Agora é a vez de Andile – co-fundador da Imiso Ceramics – voltar a mostrar sua produção em seu país de origem. Idladla, em cartaz até 11 de outubro na Southern Guild da Cidade do Cabo, reúne 17 cerâmicas que exploram texturas trabalhadas e recortes, marcas inconfundíveis do trabalho do artista sul-africano. Marcadas com incisões precisas, impressões e motivos feitos à mão, as peças arredondadas refletem a contínua experimentação e vernacular do artista. Cada item reflete valores caros a Dyalvane, como o orgulho de sua origem e a preservação cultural.
A seguir, ele fala um pouco sobre sua relação com a cerâmica e sobre a exposição na Cidade do Cabo:
Por que você escolheu trabalhar com cerâmica?
É uma reminiscência da minha infância. Reunindo e observando gado com outros meninos, eu costumava fazer figurinhas de gado com argila encontrada nas proximidades do rio para brincar. Mais tarde, quando frequentei o College of Cape Town em Gugulethu, a familiaridade e o divertimento de “fazer o gado” voltaram.
Na sua exposição da Friedman Benda, o título foi muito inspirador [Camagu pode ser traduzido como “agradeço”]. O que significa Idladla? E qual é o conceito principal da exposição (ou a inspiração para as peças que você está exibindo)?
Minhas expressões de preservação da linguagem são uma grande parte da educação cultural que meu trabalho carrega e, principalmente, da minha atitude em relação ao viver – sempre para agradecer. Idladla significa “silo de grãos” na língua isiXhosa [falada por cerca de 18% da população sul-africana]. Na crença africana, uma casa não é totalmente uma casa sem idladla. É simbólico do homem e da mulher, a dualidade, a família, a comunidade, a terra e o que ela dá em sementes, colheitas e cuidados para aqueles que apreciam seus presentes. Como na tribo Dogon de Mali, dirigir-se a antepassados no topo de um silo doméstico de grãos é a escalada em direção à reverência espiritual. Assim, várias escadas e motivos que representam degraus podem ser vistas em minhas obras de Idladla. Eu certamente sou um praticante de minhas crenças tradicionais e espirituais.
Você tem uma preferência especial por alguma técnica específica em seu trabalho como um todo? E na exposição, você prefere alguma técnica em particular?
Em meus trabalhos conceituais e peças únicas, eu uso a técnica de hand coil [o artista modela um “cordão” com a argila e vai enrolando-o para dar forma ao vaso] e uso bastante scalping e escarificação, bem como técnicas livres de escovado à mão. Eu gosto de esboçar todas as minhas ideias, como se estivesse registrando tudo num diário. Idladla exibe formas estruturais em que sempre me interessaram – minha visita a Santa Fe encorajou curvas curtas e arredondadas que trouxeram conversas de Aboubarka Fofana (mestre de tintura natural Indigo do Mali) para o espírito.
A exposição Idladla fica em cartaz na Southern Guild, na Cidade do Cabo, até 11 de outubro. Seis destas 17 peças serão expostas no stand da Southern Guild na próxima Design Miami, de 6 a 10 de dezembro.