Nas mãos de Joseph Walsh, a madeira ganha formas sinuosas e de caráter escultórico. Autodidata, o irlandês cria peças únicas ou de edição limitada que têm como marca registrada a fluidez e a organicidade das formas. Camas, bancos e mesas fazem parte de seu repertório de “esculturas funcionais” e, sob o seu olhar, até mesmo normalmente menos exploradas, como prateleiras, ganham leitura inusitada.
Com uma produção respeitada em todo o mundo, Nesta última quinta-feira, dia 15, a National Gallery of Ireland inaugurou a escultura Magnus Modus, terceira instalação de grande escala da série Magnus. Com 7 metros de altura, a peça é feita, como boa parte do trabalho de Walsh, com lâminas de madeira de freixo curvadas e coladas. Aqui, a peça dialoga com a arquitetura e envolve o usuário, mudando sua percepção do espaço. “Magnus Modus é o ápice de todas as peças que criei nos últimos 15 anos. Esta comissão da National Gallery me deu a oportunidade de explorar ideias em torno da pura escultura e traduzi-las em uma peça de grande escala.”
Além disso, no mês passado Walsh teve uma individual dedicada ao seu trabalho na American Irish Historical Society, em Nova York: a mostra Reveal exibiu trabalhos inéditos e encomendas privadas. Conversei com ele sobre sua profunda relação com a madeira, a exploração de novos materiais e processo de trabalho:
Você começou a aprender a trabalhar a madeira com o seu avô aos 8 anos, correto? Como foi isso?
Ele começou a me dar ferramentas muito simples que me iniciaram no trabalho com a madeira – no começo eu fazia coisas pequenas e depois fui querendo ir cada vez mais longe, até chegar ao mobiliário. Eu continuei a praticar na adolescência, a ler muito, comprar equipamento, estudar diferentes técnicas, e desenvolver as técnicas de execução…
E como você se sente em relação à madeira, existe alguma relação emocional com ela?
Eu vejo a madeira como algo vivo, e procuro trabalhar com ela de modo a extrair essa vida do material de alguma forma.
As formas das suas criações são sempre fluidas, orgânicas, escultóricas… A natureza inspira você de alguma forma? Você acha que o entorno do seu estúdio [localizado em West Cork, no sul da Irlanda] é importante para o seu processo criativo em certa medida?
Sim, mas não tão literalmente, em termos de formas, e sim pensando na função e no usuário. Ao criar, penso em como o usuário vai se envolver com a peça, e as formas são um resultado disso. Quanto à natureza ao redor do meu estúdio, acho que o trabalho com a madeira não deveria ser algo separado da natureza, porque é um ciclo… E acredito que, ao permitir que o material dite a forma, temos resultados mais surpreendentes e bem-sucedidos. Ser mais aberto ao que o material sugere é melhor do que tentar controlá-lo – você não pode controlá-lo, tem que colaborar com ele.
E o seu processo de criação? Você falou sobre deixar a natureza se expressar, mas você desenha antes de executar uma peça ou você concebe algo em sua cabeça e executa diretamente, e a coisa vai tomando forma à medida em que você executa?
Normalmente começa com desenhos, execução de maquetes, aí volto aos desenhos, para refinar o projeto, e então de volta às maquetes… Primeiro desenvolvo o projeto numa escala menor, entre desenhos e maquetes. E então quando está definida, trabalho com minha equipe para fazer desenhos técnicos e começar a construir a peça na escala real com os artesãos e toda a equipe envolvida, mas mesmo assim é uma interpretação da maquete, porque na escala real o material pode se comportar de maneira diversa – nós temos uma relação diferente com a peça na escala real, então cada estágio no processo é uma interpretação. O processo de design continua ao longo do processo de execução.
E quanto tempo leva para você desenvolver uma peça? Sei que pode variar muito, mas você pode nos dar uma ideia?
Pode levar entre 9 meses e 3 anos, dependendo da peça.
Você trabalha principalmente com freixo. Por que prefere usar esse tipo de madeira?
É uma madeira comum aqui, que tem um veio bonito, aberto, é resiliente e forte, se presta a ser curvada – que é algo frequente no meu trabalho –, não é muito pesada, então tem um peso bom para uma cadeira ou mobiliário, funciona muito bem para esse tipo de trabalho. Eu também uso outros materiais, dependendo do projeto.
Você tem trabalhado também com resina e mármore, certo? Qual é sua relação com esses materiais?
Eu gosto de me mover entre diferentes materiais. O grande desafio, para mim, é entender a sensibilidade do material. E trabalhar com diversas matérias-primas também me faz enxergar a madeira de outro jeito, sempre acrescenta algo em termos de pensar diferente. É muito interessante começar a entender o potencial de diferentes materiais, porque você usa o material que for mais adequado para cada proposta – nem sempre a madeira é a melhor opção.
Você antes disse que curvar a madeira é importante no seu trabalho. Como você curva a madeira?
Corto a madeira em camadas finas e então eu a curvo, tirando partido da sua elasticidade natural, e construímos as camadas, colando camada com camada sucessivamente.
Suas peças são feitas exclusivamente à mão ou você também usa algum tipo de maquinário no processo de produção?
Não há muitas oportunidades para usarmos maquinário, o processo é mais artesanal… claro que temos ferramentas típicas como serra e outras para cortar a madeira, mas depois disso, quando começamos a curvar e dar forma à madeira, é um processo manual, é tudo modelado e esculpido à mão… neste tipo de trabalho, cada peça é única, então não é a melhor oportunidade para automação.
Suas peças são tão únicas e elaboradas, suponho que sejam bastante caras também. Qual é a peça mais cara que você já produziu?
É difícil dizer… mas algo como uma mesa de jantar feita para uma galeria, uma peça que mostramos em Nova York em novembro do ano passado, foi vendida por 200 mil Euros. Os projetos comissionados por clientes privados – e esses são nossos principais trabalhos – são mais caros, mas esses valores nós não divulgamos.
No que você está trabalhando agora?
Estou trabalhando em peças de grande escala, que são mais intervenções na escala arquitetônica dos espaços – é a mesma linguagem, mas muda a forma como você vivencia o espaço, com a escultura que passa sobre os visitantes, podendo criar áreas de estar e até lugares para sentar, em alguns casos. Claro que, com essa escala, não são muitos projetos – são três –, e eles estão tomando uma boa parte do nosso foco.
E quando esses trabalhos devem estar prontos?
O primeiro deles [Magnus Modus], no qual já estamos trabalhando por um bom tempo, já está pronto, mas abre em cerca de duas semanas. Foi uma competição que venci há cerca de dois anos para fazer uma escultura para a National Gallery of Ireland. O outro é em uma residência particular na Índia, e deve ficar pronto no início do ano que vem. E o terceiro também é aqui na Irlanda, fica em Dublin, no átrio de um espaço corporativo.
Pedi a Joseph Walsh que escolhesse as 5 peças que considera as mais importantes de sua carreira. São elas: