Há tempos acredito que os deslocamentos são uma bela ferramenta à disposição do designer. Basta lembrarmos – para usar um exemplo mais conhecido – de alguns projetos mais antigos dos irmãos Campana, quando, ainda sem acesso à produção industrial, tiravam partido lindamente deste recurso. Puxemos da memória peças como a cadeira Plástico Bolha, cujo “estofamento” era formado por várias camadas de plástico bolha, e a mesa Tatoo, na qual o tampo era formado por ralos de plástico que compunham um lindo mosaico geométrico.
Mas o assunto desse post é o lacre de náilon, pecinha tão pequena e singela quanto poderosa e que tem sido usada ultimamente em projetos bem criativos. Para começar, um exemplo brasileiro: o balanço Cocar (acima), projeto de Paula Sertório e Victor Paixão, do coletivo PAX.ARQ. Nele, 720 lacres amarelos unem 180 peças planas de acrílico transparente, formando uma concha super confortável. Criado a convite do projeto BOOMSPDESIGN, o balanço Cocar está instalado no jardim do Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, e pode ser conhecido – e experimentado – até 9 de agosto.
Outro exemplo, já com formas mais básicas, é a linha Cable (acima), do britânico Anthony Hartley, na qual planos de MDF com acabamento colorido são unidos por lacres de diversas cores. Vendidos (no site do designer) desmontados, os móveis podem ser montados facilmente, sem uso de nenhuma ferramenta.
O mesmo processo é usado na escultórica T.Shelf (abaixo), criação do J1 Studio, do designer baseado em Los Angeles Jae Won Cho. Composta por um sistema de módulos triangulares – “a forma geométrica mais forte”, segundo o designer –, a estante pode ganhar diversas configurações e crescer indefinidamente, ocupando paredes e até o piso e/ou o teto. A montagem também é simples, como mostra esse vídeo aqui.
Por fim, um exemplo bem bacana que vi em Lambrate durante o Salão do Móvel de Milão deste ano. Trata-se do Bender Stool (abaixo), um banquinho que pode ser feito reaproveitando pernas de móveis antigos ou mesmo com simples pedaços de madeira. A ideia é do alemão Paul Evermann, que projetou um assento formado por uma chapa metálica cortada a laser, que, ao ser dobrada e presa com os lacres a três pedaços de madeira, dá forma ao banquinho. E pra melhorar, ainda é empilhável.
Viva a criatividade e o uso alternativo dos objetos existentes!!