O post de hoje não é design brasileiro — mas bem que poderia ser. Calma que eu explico 🙂
Ao visitar o Salone del Mobile, em Milão, no mês passado, fui surpreendida por um tapete feito inteiramente de… fuxicos!
Sim, o fuxico: aquela flor de tecido franzido que a gente conhece desde sempre por aqui e que, até então, eu julgava ser uma invenção brasileira, era o elemento central de um belíssimo tapete lançado pela marca espanhola GAN. Estaria o fuxico também presente na Espanha?, me perguntei.
Pois bem, fui apurar. E a pessoa que conversou comigo contou que, tempos atrás, José A. Gandía-Blasco Canales — diretor artístico da GAN e autor do tal tapete — fez uma viagem ao Brasil, mais especificamente ao Maranhão, e ficou encantado com o fuxico.
Mais de 20 anos depois da tal viagem, nasce a coleção Momos, que parte do fuxico não apenas para criar um tapete, mas também almofadas e um pufe. O contorno habitualmente circular vira quadrado, o módulo se repete, a paleta é neutra — e o resultado é sofisticado, contemporâneo, com um forte apelo gráfico.
E aí volto ao começo: o produto foi criado por um designer espanhol, mas poderia tranquilamente ter saído da mente de um brasileiro. O que falta, então? Talvez olhar com mais generosidade para o que é nosso. Revisitar o popular sem ranço. Resgatar as raízes com menos hierarquia e mais escuta. Porque se a gente não fizer isso, alguém de fora virá e fará — com brilho, reconhecimento internacional… e sem culpa.
Importante dizer: não acho que a GAN “se apropriou” do fuxico, pelo contrário. O olhar é respeitoso, e o resultado é belíssimo. Mas é impossível não sentir um certo incômodo. Por que precisamos ver a nossa cultura atravessar o oceano e ser validada lá fora para, só então, nos orgulharmos dela?
Fotos: DDB (estande GAN) e divulgação
