Alma de artista, cabeça de designer: do início do processo criativo, no desenho e na argila, ao produto acabado, indubitavelmente belo e necessariamente funcional, Jacqueline Terpins mescla, em sua obra, emoção e razão. Com a nova coleção de mobiliário, Sussuros, não foi diferente. O que é totalmente diverso dessa vez é o contexto no qual essa série de mobiliário foi desenvolvida. Em resposta a uma realidade que atordoa e fragiliza, Jacqueline usa suas criações como metáforas de comportamentos aos quais temos recorrido nessa longa e complexa travessia.
“No silêncio, a expressão criativa surge como meio de externar o que se escuta internamente. Transformar sentimentos em algo concreto, representá-los em uma forma, é em si um desafio. Para traduzi-los é preciso ampliar o olhar, distanciar-se das adversidades e, nesse movimento, encontrar espaço para novos caminhos”, analisa.
Um “registro da imagem do silêncio interrompido”, a mesa de centro Sussurro fala sobre a importância de nos adaptarmos e absorvermos uma nova realidade. E também descortinou um novo processo para Jacqueline: “com essa mesa, encontrei um novo caminho no trabalho com a madeira”, contou-me hoje de manhã, quando estive em seu estúdio no Pacaembu. A proximidade do material é fundamental para a artista-designer: para que a mesa de centro Sussurro ganhasse a forma imaginada, a madeira precisou ser persistente e pacientemente lixada, fazendo surgir uma nova relação com essa matéria-prima.
A seguir, o conceito de cada peça nas palavras de Jacqueline Terpins:
Sussurro
“Um estremecimento pontual que reverbera por toda a extensão. A quietude, a estabilidade são abaladas. A natureza do impacto desse movimento é desconhecida. O transbordamento parece iminente, mas o tempo revela a possibilidade de adaptação, de absorção daquilo que já não é o mesmo.
A mesa Sussurro parte de uma forma livre, espontânea, que desvia o plano da matéria, por meio de relevos escavados sobre sua superfície. Desorganiza o fluxo, a direção dos veios da madeira. A mesma ação que desorganiza também evidencia a diversidade de novas formas que estes caminhos podem revelar. A mesa Sussurro é o registro da imagem do silêncio interrompido.”
Eco
“Momentos de ausência de ordem externa nos levam em busca de referências, de direções que nos orientem à estruturação do interno. Identificar o essencial dentro da desordem surge como uma condução para a estabilidade.
A mesa Eco é uma expressão orientada pela razão, à procura da lógica. O eco é um fenômeno de reflexão do som. Para existir é necessária a presença de um obstáculo, que garanta o retorno daquilo que foi deslocado e modificado no tempo e no espaço. Projetar o simples, sustentando-se na precisão da simetria e do espelhamento, e chegar ao equilíbrio com o mínimo.”
Atabaque(s)
“Brincadeira e criatividade são indissociáveis. Ambas passam pela disponibilidade de ensaiar, testar e enxergar uma mesma realidade a partir de diferentes ângulos.
A banqueta Atabaque surge de um volume geométrico em elipse, cujo topo ganha um desenho em raio, trazendo conforto ao sentar e harmonia à composição de suas linhas.
Individualmente, sua forma simples sugere versatilidade, ao mesmo tempo que convida a um jogo lúdico de repetição. Justapostas, as banquetas formam o banco Atabaques.
Por meio da brincadeira, leveza e senso de humor surgem como recursos para adaptação a cada contexto.”
A mostra Sussurros pode ser visitada presencialmente até amanhã (das 10h às 13h) no Estúdio Jacqueline Terpins (Rua Gustavo Teixeira, 314, São Paulo) e digitalmente até domingo (31/10) na Viewing Room da @sp_arte.
Fotos: Andrés Otero (still) e Winnie Bastian
Pra ver outros projetos de Jacqueline Terpins já publicados aqui no DDB, acesse este link.
Quando o design está em perfeita sintonia com as palavras desse texto 🔝🔝