Semana passada estive em Vitória a convite da Abirochas para conferir a Vitoria Stone Fair e, especialmente, a exposição Brazilian Stones Original Design, que acontecia dentro da feira. Em sua terceira edição, a mostra apresentou, sob a curadoria da arquiteta capixaba Vivian Coser, produtos que utilizavam as rochas naturais brasileiras como principal (ou única) matéria-prima.
O objetivo é associar “a capacidade singular e individual da criação com o domínio da técnica, do conhecimento dos materiais e dos processos de produção, fortalecendo o elo entre o design e a indústria de rochas ornamentais”, afirma Reinaldo Sampaio, presidente da Abirochas.
“Os cristais de uma rocha nunca se repetem. A natureza forma desenhos exclusivos”, exalta Vivian, que convidou 21 profissionais a criarem (ou recriarem) produtos que exaltassem as características das rochas ornamentais brasileiras – temos rochas belíssimas aqui, que não ficam devendo em nada às importadas, muito pelo contrário. A exposição estava super bonita e trazia vários produtos interessantes, tanto que acabei fazendo uma cobertura bem extensa no Instagram do Design do Bom (salvei nos destaques dos Stories).
Para essa matéria, no entanto, resolvi me impor um desafio: escolher apenas cinco produtos, os “top 5”, com base em três critérios principais. Estes produtos tinham que: 1. ser inéditos; 2. trazer alguma inovação na forma de usar as rochas ornamentais; 3. ser bonitos, lógico! Então, vamos a eles:
Mesas Cava, design Ana Neute
Sutileza e elegância no desenho, valorizando o uso da pedra e da tecnologia produtiva (CNC de 5 eixos). Nas mesas criadas por Ana Neute, um ponto do tampo de mármore curva-se delicadamente para dar origem ao pé de formato cilíndrico no mesmo material, como se a rocha se fluidificasse e “escorresse” para o vazio. Neste “oco”, um pequeno vaso solitário permite a colocação de água para receber uma flor ou planta. Destaque para a execução da emenda entre o tampo e a base: impecavelmente nivelada, torna-se imperceptível ao tato e discretamente perceptível visualmente somente em função do desenho dos veios do mármore.
Mesa lateral Ettore, design Arthur Casas
De aparência instigante, a peça é composta por três pedras sobrepostas com o tampo em balanço, o que se torna possível graças à incorporação de uma estrutura metálica, invisível para quem observa a mesa. Aparentemente simples, o móvel tira partido da tecnologia, já que as placas são recortadas em máquina CNC para garantir um perfeito encaixe dos perfis metálicos. A forma essencial da peça e o acabamento acetinado destacam o desenho rebuscado das rochas escolhidas: o granito Via Appia no tampo, o quartzito Emerald Green na base e o mármore Raffaello no eixo vertical.
Poltrona Itinga, design Rodrigo Ohtake
Com formas simples e desenho livre, contrapondo linhas retas e curvas, a peça criada por Rodrigo Ohtake coloca em evidência a beleza do mármore dolomítico Alba Pietra, lançamento da Qualitá Group. Executada com técnicas simples (chapas cortadas em jato d’água e coladas com PU), esta poltrona mostra que é possível usar o material com frescor mesmo sem recorrer às tecnologias mais avançadas (nem sempre disponíveis a todos os profissionais).
Mesas de centro Leeven, design Ricardo Freisleben
Elas me conquistaram por motivos simples: a proporção acertada, a sutileza do traço e o tratamento dos materiais. As mesas Leeven têm base de madeira carbonizada e tampo de granito preto com linhas arredondadas não apenas no contorno, mas também na superfície do tampo, que é ligeiramente “escavada”, de modo a criar uma borda ligeiramente mais alta. Também gosto muito do tratamento dado ao granito: o acabamento escovado faz com que o material ganhe relevo e a ausência do brilho normalmente associado às rochas ornamentais dá uma leitura mais contemporânea ao material.
Mesa de centro São Paulo, design Noemi Saga
Com linhas essenciais e um quê brutalista, a mesa chama atenção pelo refinamento da forma e pelo acabamento dado ao granito Nevada Black: o polimento fosco ressalta o desenho dos rajados em branco, dando uma nova percepção à pedra. A mesa guarda, ainda, um trunfo prático: sua concepção formal permite que o tampo seja solto, simplesmente repousando nos quatro apoios, sem necessitar de qualquer fixação – esta solução não apenas facilita o transporte (simplificando a embalagem e reduzindo seu volume), como permite que se customize as dimensões do tampo e, por consequência, da própria mesa, conforme a necessidade.