Além da paisagem exuberante – dunas alaranjadas, chapadas, piscinas naturais e cachoeiras –, o Jalapão guarda um outro tesouro natural: o capim dourado, verdadeiro patrimônio da região. O material, usado pelos locais há décadas para confeccionar utensílios e bijouterias, foi a escolha de Ana Neute para dar forma à coleção Bruta de luminárias, que a designer criou para a marca Itens.
As peças (luminárias de piso, parede, mesa e teto, com variações de tamanho) são compostas por círculos de capim dourado se unem à estrutura de latão, funcionando como refletores para as luminárias. Um globo de vidro fosco encapsula as lâmpadas, de forma a emitir uma luz suave que acentua o brilho do capim. “O desafio foi aplicar o capim dourado nas peças explorando o seu melhor, que é o seu brilho natural”, conta Ana.
A escolha das formas circulares para trabalhar a coleção não foi mero acaso. “O círculo, além do significado estético, traz um forte significado teórico. É uma forma circular, encontrada no formato da terra, nos olhos, na barriga de uma grávida, etc. Ele não tem princípio nem fim e é reconfortante, passa uma sensação de aconchego. Círculos protegem, limitam o que está dentro e não permitem que nada externo entre. Eles oferecem segurança e conexão, seu movimento sugere energia e sua complexidade remete ao infinito, a unidade e harmonia”, conceitua Ana Neute.
Para desenvolver a coleção Bruta, Ana Neute e a empresária Mariana Amaral, da Itens, foram juntas ao Jalapão e lá fizeram uma imersão, conhecendo de perto as artesãs e o processo de trançado desta fibra preciosa. “Como diz o ditado local, ‘o Jalapão é bruto’. Em contraponto a essa brutalidade bela e selvagem, que deu nome à coleção, nos deparamos com a simplicidade e leveza dos sorrisos das mulheres do Quilombo Mumbuca, verdadeiras guerreiras chefiadas pela doce ‘Doutora’, uma curandeira local, terceira geração da mulher que descobriu o capim dourado nesta comunidade. Elas passam os dias tecendo o ouro local. Esta aptidão é passada de mãe para filha”, conta Mariana.
Essa união entre o design e o artesanato tem duplo mérito: por um lado, enaltece o trabalho das artesãs do Quilombo Mumbuca, comunidade com cerca de 150 habitantes localizada a 8 horas – por uma estrada de chão vermelho e arenoso – de Palmas, capital do estado de Tocantins. Por outro, permite que a designer se mantenha em sua linguagem, mas ganhando em frescor: “Nessa coleção, exploro algumas formas que já são referência no meu trabalho e a união delas com um material orgânico resultou em peças totalmente diferentes das que já apresentei”, afirma Ana.