Traçar um mapa dos fluxos entre Portugal e Brasil no campo do design e da cultura material. Eis a ideia da exposição Tanto Mar: fluxos transatlânticos do design, em cartaz no Palácio da Calheta, em Lisboa, por iniciativa do Museu da Moda e do Design – MUDE (cujo prédio atualmente está em reforma). Para fazer esse panorama, trabalhos e autores que vivem “cruzando e unindo o Atlântico” foram selecionados pelas duas curadoras, a brasileira Adélia Borges e a portuguesa Bárbara Coutinho (diretora do MUDE).
São 160 peças que englobam diferentes fases da história, desde o período de colonização do Brasil, mas com foco principal nos séculos 20 e 21. Integram a exposição itens de diversas naturezas, como móveis, roupas, joias, utensílios, objetos decorativos, painéis de azulejos, tecidos e ilustrações, resultando em uma malha de diálogos, afinidades e influências.
Neste aspecto, impossível não falar da influência portuguesa no nosso design com o exemplo do português Joaquim Tenreiro, que trouxe do além-mar a expertise no trabalho com a madeira e se tornou o “pai” do móvel moderno brasileiro. Ou caso menos conhecidos – até mesmo surpreendentes –, como a onda na calçada portuguesa, surgida na Praça do Rossio, em Lisboa, e que acabou por se tornar um dos principais símbolos do Rio de Janeiro ao ser usada nas calçadas de Copacabana.
Além de todo o repertório escolhido pelas curadoras, quatro peças foram desenvolvidas especialmente para a mostra. O designer gráfico Fernando Lemos, português que vive e trabalha no Brasil há mais de 70 anos, criou o cartaz original de Tanto Mar (a partir do qual foi desenvolvida toda a comunicação gráfica). A brasileira Mana Bernardes fez uma instalação utilizando bordado em colaboração com o grupo português A Avó Veio Trabalhar, iniciativa de Susana António e Ângelo Campota que reúne mulheres com mais de 65 anos. E os também portugueses Manuela Pimentel e Diogo Machado (Add Fuel) criaram reinterpretações contemporâneas da azulejaria.
Na varanda de entrada, um redário usável evoca a instalação criada por Lúcio Costa para o Pavilhão do Brasil na Trienal de Milão de 1964. Ali, os visitantes podem ouvir uma seleção de músicas proposta pelas curadoras. Boa notícia: a exposição segue em cartaz até 15 de julho. Se tiver planos de visitar Lisboa, inclua na sua lista!