A questão da identidade está intrinsecamente ligada ao design em suas diversas esferas, já que os produtos que escolhemos, compramos e consumimos comunicam aos outros, deliberada ou inconscientemente, quem somos. E quando o produto se conecta com duas identidades (a do seu usuário e aquela do lugar onde foi produzido), ainda melhor, né?
Pois esse era o mote do núcleo Pertencimento, que integrou a mostra principal da Bienal de Design em Curitiba: a ideia era trabalhar com o conceito de “uma identidade em movimento, que se reinventa a cada passo”, explica a curadora Adélia Borges.
Acho que o tema da identidade pode ser lindamente explorado nos diversos campos do design. Mas neste post escolhi mostrar alguns acessórios de moda exibidos na Bienal que provam que, sim, é possível partir de elementos muito conhecidos de uma forma rica, sem seguir o caminho fácil (e pobre) do clichê.
Concebidas sempre a partir de referências ligadas à identidade do país ou de alguma região específica, estas peças se destacam pela pegada contemporânea e não-caricata. Acredito fortemente no potencial dos produtos que se valem de referências consagradas para, a partir daí, construir uma imagem nova e única.
É o caso das sapatilhas Soul Origine (foto acima), construídas a partir da junção de dois elementos muito ligados à cultura brasileira, um bem tradicional (caso das alpercatas – ou “alpargatas”, como ficaram mais conhecidas) e outro já mais contemporâneo (a sola dos chinelos havaianas, que acabaram se tornando sinônimo de brasilidade em todo o mundo). Assim, o solado que antes era feito em corda agora foi substituído pelo de borracha. O resultado ficou super simpático e, apesar de um dos modelos ser verde e amarelo (acredito que só turista deve ser capaz de comprar essa combinação!), a maior parte da coleção tem cores bem bacanas, vibrantes ou neutras.
As sandálias masculinas de couro (acima) criadas por Jailson Marcos, de Recife, incorporam uma prática antiga sertaneja: ao fechar a frente da sandália (mantendo o restante aberto para ventilação), protege-se o pé da entrada de areia e detritos (pedras, pedaços de galhos) que podem machucar ou, no mínimo, causar desconforto. O visual, no entanto, não tem nada de convencional – pelo contrário: é super descolado.
Já os colares da coleção Brasília 50 Anos, criados pelo coletivo Brasília Faz Bem (Carla de Assis, Fátima Bueno e Lígia de Medeiros), trazem ícones da capital federal, como as cúpulas do congresso nacional e o avião (formato do plano diretor), mas com um tratamento que não os deixa cair no clichê. Também é o que acontece no colar criado por Miriam Mamber (SP), que traz a Araucária, símbolo da capital paranaense (cidade natal da designer), de um jeito poético e inusitado: a mini-árvore em ouro pode posicionada em vários lugares da peça.
(Fotos: 1- bcymet/Flickr; 2 e 5- divulgação ; 3 e 4- @designdobom)