A tal “atitude minimalista” sobre a qual falei no primeiro post dessa série tem tudo a ver com buscar a essência das coisas. E, claro, a essência do design de móveis e objetos passa necessariamente pela matéria-prima e pelo método produtivo, concordam?
Pois este ano foi possível ver em Milão certos produtos que se baseiam justamente na inovação matérica e produtiva – diferente de alguns anos anteriores, nos quais antigos produtos eram “maquiados” com novas cores (normalmente bem chamativas), estampas e outros artifícios – uma forma das empresas terem “novos” produtos para apresentar. O novo, no entanto, era apenas ilusório, pois, como os investimentos em pesquisa haviam sido cortados em virtude da crise, a inovação real era simplesmente inexistente. Afinal, a inovação é irmã (e siamesa!) da experimentação…
Um exemplo muito bacana é a linha de luminárias Malva, cuja matéria-prima não é nada convencional: ela é feita com esponja úmida!! Inspirados pelas qualidades naturais da celulose e da viscose, os designers do estúdio alemão Et la Benn tiveram a ideia de colocar umedecer paninhos esponjosos (tipo esse aqui) em uma fôrma e esperar secar naturalmente; uma vez que todo o ar evapora, o material fica completamente rígido.
Já a cadeira Elastic Wood, apresentada pelo grupo israelense Bakery no Salão Satélite, mescla a madeira, material super antigo do design de mobiliário, com um componente flexível (que pode ter diversas cores). O projeto “enfoca as juntas de marcenaria, procurando ver o que acontece quando elas se tornam flexíveis”, explica seu autor, o designer Gil Sheffi.
A cadeira é produzida em uma fôrma plana, e se transforma em um objeto tridimensional graças à flexibilidade do material elástico – que, além de funcional, também surge como um elemento de composição estética (mas sem “firulas”).
Por fim, um caso ligado à grande indústria, que pode ser um sinal de que a pesquisa deixou de estar restrita aos circuitos alternativos (tomara!). Trata-se da cadeira Sparkling, criada pelo holandês Marcel Wanders para a Magis.
Feita com PET e utilizando a mesma técnica produtiva normalmente usada para fazer as garrafas d’água (blow-molding), cita o universo da água no nome – Sparkling, em inglês, é água com gás – e na forma, com pernas que fazem menção direta às garrafas, até mesmo no modo como são fixadas à concha – rosqueando, o mesmo movimento que fazemos ao abrir a tampa.
O processo produtivo, segundo o designer, é o seguinte: “uma vez que as pernas são moldadas, o espaço vazio é preenchido com ar em alta pressão, o que as torna altamente resistentes. Com esta técnica, o uso de plástico é mínimo e o peso total da cadeira é de cerca de 1Kg. No final, as pernas são rosqueadas na concha.” E brinca: “é tão fácil quanto beber um copo d’água”. Embora seu shape não seja o mais neutro, considero seu espírito minimalista. Afinal, tem algum material mais básico do que o ar? E o ar, nessa cadeira, é tudo: processo produtivo e matéria-prima. Grande sacada, Wanders, mais uma vez!
(Via Bakery, Dezeen e Marcel Wanders)