Design autoral brasileiro em ótima forma

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Três versões da cadeira Girafa, um ícone da Baraúna e do design brasileiro – design Lina Bo Bardi, Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki
A Marcenaria Baraúna vista pelas lentes de Bob Wolfenson

Criada em 1987 pelos arquitetos Francisco Fanucci, Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki, a Marcenaria Baraúna comemora 30 anos com um belo registro da sua trajetória. Acaba de ser lançado pela Editora Olhares o livro Marcenaria Baraúna: móvel como arquitetura – título bastante oportuno, já que os móveis da Baraúna eram resultado do mesmo raciocínio que guiava o fazer arquitetônico do Brasil Arquitetura (escritório dos mesmos sócios, surgido em 1979). A Baraúna é, sem dúvida, uma das mais importantes iniciativas no campo do design e produção de móveis autorais no Brasil. A publicação conta com textos de Mina W Hugerth (organizadora), Ethel Leon, Frederico Duarte e Mariana Wilderom, além de um ensaio com os marceneiros da empresa assinado por Bob Wolfenson. Para (re)descobrir e valorizar o bom design nacional! A seguir, algumas das peças que têm suas histórias contadas em detalhes no livro.

Desenhos de Lina Bo Bardi para a cadeira Girafa
Mesa, cadeiras e banquinhos Girafa
Cadeira Girafa (1986)

Uma das primeiras peças da Baraúna – e talvez a mais icônica da história da Marcenaria –, foi criada por Lina Bo Bardi, Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki para mobiliar o restaurante da Casa do Benin, em Salvador. Apesar do contexto, a inspiração inicial da peça não tinha nada de tropical: móveis feitos por Alvar Aalto nos anos 1930 para o Sanatório de Paimio, na Finlândia. “Repensaram o banquinho de três pés de outro modo e com outro significado, substituindo o compensado pela madeira maciça brasileira”, conta Mina W. Hugerth no livro.

Desenhos de Lina Bo Bardi para a cadeira Frei Egidio

 

 

Cadeira Frei Egidio
Cadeira Frei Egídio (1986)

Criada na mesma época da Girafa, também por Lina, Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki, surgiu para equipar o Teatro Gregório de Mattos, também desenvolvido pelo trio na capital baiana. Como precisava ser leve e de fácil transporte, os arquitetos-designers buscaram referência nas cadeiras dobráveis do renascimento italiano – mas transformaram as várias ripas do modelo clássico em apenas três fileiras de tábuas. A definição técnica foi um desafio – foram necessários 13 protótipos para otimizar seu fechamento e garantir que não ficasse muito inclinada para trás.

Em primeiro plano, o banco Cachorrinho da Marcenaria Baraúna – ao fundo, o exemplar encontrado em uma fazenda no Vale do Paraíba
Banco Cachorrinho (1987)

Esse banquinho gracioso é a interpretação de uma peça anônima, encontrada em uma fazenda no Vale do Paraíba. “A Baraúna chegou a ter uma coleção de mais de 40 banquinhos adquiridos pelo interior do país, que revelavam esse interesse e um olhar antropológico para a arte e a cultura populares. Também por essa via começava a se definir a identidade da baraúna no tal ‘móvel como arquitetura’, num modo de projetar em que as estruturas são evidenciadas”, diz Mina W. Hugerth no livro.

Cadeira Brava
Cadeira Brava (1991)

As cadeiras de palha campestres foram a inspiração para Marcelo Suzuki criar esta peça, que transporta para a madeira maciça a inclinação dos planos e a forma de acomodar o corpo. Dois conjuntos de triângulos e trapézios unidos por pinos formam assento e encosto, em um móvel harmônico e confortável.

Cadeira Cambuí
Cadeira Cambuí (1997)

Criada por Francisco Fanucci, tira partido da estratégia de inclinar os planos de assento e encosto pesquisada nos bancos caipiras.

Cadeiras e poltrona Filó
Poltrona e Cadeira Filó (2001)

Projeto de Francisco Fanucci, surgiram de um convite feito por empresas de madeira certificada, que buscavam divulgar essa matéria-prima. “Fanucci conta que quando chegaram as amostras de madeira para sua análise, ficou chocado com o tamanho das peças, curtas e pequenas, pois a maior parte da produção era exportada e o que sobrava no país eram, literalmente, sobras. Com isso, decidiu criar uma linha que fosse então ao limite dessa ideia, com a seção mínima de madeira que conseguiria estruturar uma cadeira, de 2×2 centímetros”, relata Mina W. Hugerth no livro. Em 2010, o mesmo conceito de “muitos elementos e pouca matéria” deu origem à chaise Filó (abaixo).

Chaise Filó
Cadeira Maria sozinha e montada como namoradeira
Outra opção de arranjo das cadeiras Maria
Cadeira Maria (2015)

Concebida por Marcelo Ferraz em homenagem aos 50 anos de carreira de Maria Bethânia, mesclam as formas do quadrado e do círculo (o primeiro inscrito no segundo) para formar assento e encosto, respectivamente. “As Marias podem ser usadas sozinhas ou agrupadas em diferentes arranjos, serpenteando pelo espaço ou até criando uma namoradeira de canto”, observa Mina W. Hugerth no livro.

Cadeira Isa d’Après Siza e detalhe do encaixe de ipê
Cadeira Isa d’Après Siza (2017)

É a criação mais recente de Marcelo Ferraz e foi pensada a partir de uma cadeira feita pelo arquiteto português Álvaro Siza. O objetivo era uma peça simples, leve, empilhável e com o mínimo de material. Feita com estrutura de eucalipto de reflorestamento em uma única seção, compensado naval no assento e no encosto e uma peça de ipê que conecta as partes. Minimalista na aparência e na essência: todas as peças da cadeira são o mínimo possível para resistir aos esforços a que são solicitadas.

Capa e contra-capa do livro
Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz em foto de Bob Wolfenson
A equipe da Marcenaria Baraúna em foto de Bob Wolfenson

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