Se quando você pensa em vasos de cerâmica, a imagem que lhe vem à mente é a do torno girando enquanto as mãos do artesão envolvem a argila para lhe dar forma, talvez seja hora de rever seus conceitos. A cerâmica também vem sendo usada como matéria-prima para a impressão 3D e um dos pioneiros dessa abordagem é o jovem designer holandês Olivier van Herpt, que há quatro anos vem desenvolvendo pesquisas com impressão 3D usando materiais naturais como a cera de abelha e a cerâmica.
Em conversa por e-mail, ele me contou que, na época em que começou, “as máquinas eram muito limitadas: elas imprimiam só em plástico, e eu queria explorar materiais mais nobres e funcionais. Para mim, a cerâmica é um dos processos mais bonitos”. Assim, dedicou-se a desenvolver um extrusor e uma impressora 3D capazes de usar argila de grande dureza para produzir objetos grandes (até 80 cm de altura) e resistentes, mas também delicados – somente de perto se vê as ranhuras que “entregam” o processo de fabricação. Esta série, em contínuo desenvolvimento, foi batizada de Functional 3D Printed Ceramics.
Durante a última Dutch Design Week (realizada de 17 a 25/10), Olivier apresentou a coleção Solid Vibrations, criada em parceria com o sound designer Ricky van Broekhoven. Nela, vibrações sonoras foram materializadas em formas com o auxílio da impressora 3D de Olivier van Herpt. Um alto-falante especialmente projetado foi instalado na base da plataforma de impressão, que vibrava de acordo com os sons emitidos, criando diferentes patterns no objeto final. Muito bacana!! (O vídeo abaixo dá uma ideia do processo – assista com som!)
Também durante a semana holandesa de design, Olivier recebeu a bolsa Keep an Eye, que agracia talentos egressos da Design Academy Eindhoven com 11 mil Euros para aplicar em suas pesquisas. A seguir, ele conta mais sobre seu processo para a Casa Vogue:
Você projetou e construiu sua própria impressora 3D de cerâmica. Acho impressionante que um designer faça tudo isso… Como surgiu essa ideia?
Eu sentia que, embora a impressão 3D fosse algo divertido, as máquinas eram limitadas. A segurança alimentar era um problema. E não era possível fazer objetos adequados ao tamanho humano. Por isso decidi projetar e construir minha própria impressora 3D, pensando em fazer objetos grandes e funcionais em cerâmica. Escolhi esse material porque as obras feitas de cerâmica são duradouras e, de alguma forma, irradiam graça e serenidade ao seu redor.
Há quanto tempo você vem trabalhando nesse projeto?
Venho desenvolvendo minha própria impressora e a extrusora há cerca de três anos. Inicialmente, as partes eram pequenas (não mais do que 20 centímetros), mas hoje consigo imprimir objetos de 80 cm de altura – para isso, tive de reformular a extrusora para usar barro duro, para que então eu pudesse construir objetos maiores. E, ao longo do tempo, fui fazendo versões maiores da impressora.
Qual foi o maior desafio ao longo desse processo?
A impressão 3D é uma interação complexa entre material, forma, função, software, eletrônica, engenharia, ciência de materiais, design e criação. O desafio de fazer a máquina é o desafio de equilibrar essas coisas. A curva de aprendizagem foi íngreme no início, mas ao longo dos últimos anos eu aprendi muito, e tudo isso foi empregado na máquina.
Você teve ajuda de um engenheiro mecânico?
Na verdade, um amigo que estuda engenharia mecânica me deu algum suporte técnico. Tanto a extrusora quanto a impressora 3D estão em desenvolvimento contínuo, não são objetos acabados. Quero continuar aperfeiçoando as duas para conseguir fazer objetos ainda maiores.
Você acaba de ganhar a bolsa Keep An Eye. Quais são seus próximos passos?
Depois de três anos trabalhando nessa tecnologia de impressão 3D em cerâmica, já construí minha terceira máquina (ainda um protótipo), que tem dezenas de revisões e partes novas. Quero permitir que outros façam mais objetos e ajudá-los a explorar a impressão de objetos funcionais em cerâmica. Quero dividir minha tecnologia com artistas, fabricantes e designers para que eles possam criar coisas que não podiam ser feitas antes. Minha máquina está em um ponto no qual eu posso confiavelmente e repetidamente fabricar cerâmica com camadas mais finas, detalhes mais finos e em tamanhos maiores do que outros produtores. Para levar essa máquina mais longe, preciso adequá-la para ser fabricada industrialmente. Precisarei achar fornecedores, contratar um engenheiro que adapte o projeto para a produção industrial e projetar novas partes para a máquina.
Sobre os produtos, em si, vejo minhas coleções como um resultado da exploração dos processos de fabricação. Isso acontece através do desejo de criar formas e produtos que não podem ser feitos atualmente e remixar tecnologias existentes para fazer novas tecnologias. Na intersecção entre o digital e o analógico, meu trabalho me encontra. Uma coleção é um instantâneo das minhas atuais possibilidades e do atual estado da tecnologia que estou desenvolvendo. As exposições são uma chance de mostrar essas coleções ao mundo, receber feedback e usá-lo para aprimorar meu processo. Para o Salão do Móvel de 2016, a Dutch Design Week 2016 e a exposição do Cooper Hewitt eu mostrarei novas coleções que refletirão meu progresso.