“Não sei bem explicar o porquê, mas quando percebia meu olhar já havia se direcionado para uma nova casa que surgia no horizonte. Talvez fosse a mistura de fragilidade e força que elas transmitem. Suas paredes aos poucos se desfazem, trincam, escorrem, deixando os poros abertos. Nelas ficam registradas as cicatrizes do tempo, nelas encontro as marcas da história, de um tempo que leva, aos poucos, camadas de nós”.
A fala é de Maria Fernanda Paes de Barros (aka Yankatu), sobre as casas de pau a pique e sapé da aldeia Pataxó de Barra Velha, no sul da Bahia. Lá, as construções tradicionais vêm dando lugar às de alvenaria – uma forma encontrada pelo povo Pataxó para sobreviver a ataques e invasões (e, assim, manter vivas as tradições e a história, já que toda sua transmissão de conhecimento é feita de modo oral).
Pois foi a partir dessa referência que Maria Fernanda criou a obra Passagem, uma parede com estrutura de madeira maciça esculpida em formas orgânicas, intercalando painéis feitos com uma mistura de barro. Nesta “pele”, abre-se uma única janela de vidro, com um punhado de sementes de Pau-Brasil, que “simbolizam a vida e nos colocam em contato com nossa essência”, conceitua.
O trabalho, exposto nesta Viewing Room da SP-Arte, faz parte da exposição “Orgânico”, quarta versão do projeto Circular – Arte na Praça. É a estreia da designer no universo das artes, e, segundo o curador Marc Pottier, “essa ‘passagem’ é promissora. Nasce uma artista, esperemos que este trabalho seja o primeiro de uma longa série onde ela continuará a abraçar o universo sem ideias preconcebidas”. Salve!
Fotos: Lucas Rosin / divulgação