“Não tenho dúvida que o meu trabalho é muito barroco, mas na verdade eu gosto de tudo, me entusiasmo com a bacia de plástico da vendinha, até o Guernica, de um Picasso.” A fala é da artista Paula Juchem, cujas cerâmicas integram a exposição “Da natureza das coisas”, em cartaz na Janaina Torres Galeria, em São Paulo.
Conheci o trabalho de Paula por suas ilustrações. E foi a ilustração que a aproximou da cerâmica: em 2007, quando ainda trabalhava como ilustradora em Milão, recebeu um convite para desenvolver tridimensionalmente um desenho num workshop em Ravenna (cidade que é referência para a cerâmica italiana). Daquele momento em diante, não se separou mais da argila — mas tratando-a de forma muito particular, como uma espécie de ilustração 3D. Com a palavra, a própria Paula:
Sobre a relação entre o desenho e a cerâmica
“Para mim, é tudo uma só coisa, normalmente desenho e em seguida começo a modelar. O desenho volta para a cerâmica em forma de relevos (nem sempre), e volta mais um vez na esmaltação. Adoro abusar dos esmaltes, minhas peças vão 3, 4, 5 vezes para o forno, são várias camadas de esmaltes de diferentes qualidades.
Sobre processo criativo
Meu trabalho é de troca com a argila; eu amo argila e é o trabalho quem avisa a hora de parar. Enquanto isso não acontece, a minha diversão é sempre o exagero, a sobreposição, o arranhado, o borrado, o errado, o torto, o assimétrico , o descascado, o falhado, o quebrado, o pesado demais. Acho que é aí que mora a graça da minha cerâmica.
Sobre vivências e inspiração
Dos 14 aos 17 anos passei muito tempo debaixo d’água, mergulhava de dia, de noite, dentro e fora de navios naufragados; cheguei a pensar em fazer vestibular para Oceanologia, eu só pensava no próximo mergulho. E tive uma infância muito simples de cidade do interior do Rio Grande do Sul, com cachorros, galinhas, horta, vacas, pé de laranja e bergamota. Na natureza tudo pode ser muito grande, muito pequeno e infinitamente múltiplo, os fungos, os parasitas, os dinossauros, os monstros das fábulas… gosto de transformar essas sensações em desenho e forma, é uma espécie de refúgio mental.
A exposição “Da natureza das coisas” propõe um diálogo entre cerâmicas de Paula Juchem e fotografias de Andrey Zignnatto e segue em cartaz na Janaina Torres Galeria, em São Paulo, até 5 de fevereiro. Os trechos citados acima foram extraídos de uma entrevista com Paula no site da galeria — leia aqui. (Fotos: Ruy Teixeira)