Designers se unem a artesãos no BH Design Festival

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Na semana passada, fui até Belo Horizonte conferir o BH Design Festival, antigo DMAIS Design – idealizado em 2014 por Renato Tomasi, este ano o festival muda de nome e assume nova identidade visual (criada pela Greco Design), colocando-se como um evento ainda mais aberto para cidade, para além das lojas de decoração e design. É sempre muito bacana poder ver in loco o que está rolando na cena do design fora do eixo Rio – São Paulo, e principalmente observar iniciativas como a mostra Sobrexistir. Dentre as muitas coisas bacanas que vi por lá, esta exposição foi o ponto alto da semana mineira de design, na minha humilde opinião.

O Mercado Novo foi o local escolhido pelos curadores João Elias e Pedro Haruf para esta exposição. Mais do que uma locação, o mercado foi o ponto de partida para o projeto. Fundado em 1963 para ser o principal local de abastecimento para a população da capital, o local acabou não vingando e nunca foi efetivamente concluído, conservando grande parte de suas lojas desocupadas. “Nossa cultura está enraizada ali – basta ver café, pimenta, linguiça, fumo de rolo, queijo, doce de leite e fubá: os corredores do Mercado Novo nos remetem à cultura mineira”, afirmam os curadores.

Por isso, além de ocupar o espaço do Mercado Novo, o projeto buscou estabelecer um diálogo entre os designers convidados e os artesãos ali estabelecidos. Elias e Haruf convidaram 15 designers locais para criarem produtos a serem executados em colaboração com fornecedores/artesãos radicados no “Velho Mercado Novo”, “esperando que o resultado simbolize a união de técnicas e bagagens de conhecimento totalmente distintas. Uma aposta na troca saudável de conhecimento entre o velho e o novo”, explicam.

Nos corredores do mercado, ofícios “antigos” como tipografia, fabricação artesanal de velas, tornearia e luthieria resistem – e se prestaram lindamente à parceria com os designers. E o projeto gráfico e de expografia (desenvolvido pelo coletivo Alpendre e pelos designers gráficos Gustavo Magno, Marcelo Dante e Thomaz Lana) está lindo! Lambe-lambes criados a partir da junção desconstruída da sinalização existente no próprio mercado sinalizavam as lojas vazias que expunham os novos produtos, outra leitura da justaposição entre novo e antigo.

 “A exposição apresenta ao visitante pelo menos quatro camadas de informação: o objeto (produto desenvolvido), o designer (autor do objeto), o colaborador (trabalhador do mercado) e o próprio mercado enquanto lugar de encontro e de possibilidades”, conceituam os curadores. “[Queremos], por meio do projeto, mostrar as atividades do mercado sob uma nova perspectiva. Sobrexistiremos!”

André Ferri + José Carlos Tornearia

Com desenho elegante e combinando luz direta com indireta, a luminária pendente une a madeira (freijó natural ou carbonizado) torneada à mão com a estrutura de latão polido ou alumínio com pintura preta fosca.

Carla Medina + Augusto Tornearia

Uma malha inspirada na joalheria contemporânea foi o ponto de partida para a criação da coleção INTER-seções, composta por um móvel e um objeto vestível. O móvel, que pode funcionar como mesa ou banco, é composto por três módulos independentes que podem ser montados de diferentes formas. O objeto, por sua vez, é articulado e pode assumir a forma do corpo, sendo usado como acessório, ou planificar-se e ser usado como centro de mesa.

Cultivado em Casa + Gráfica Conceição e Coloral Mineirão

Açafrão e urucum são as matérias-primas essenciais neste projeto: as luminárias, feitas com estrutura tubular e revestidas de papel machê, não apenas exibem a cor destas especiarias, mas também exalam seus aromas. “Trabalhando essas especiarias, que também nos despertam sensações pela riqueza de seus tons, literalmente colocamos a mão na massa – e não só como exige o ofício da cozinha, mas vários outros que ocupam o mercado”, contam os designers.

Pedro Haruf + Serralheria Mangaba

Os cobogós que revestem a fachada do mercado novo surgem no banco com nova função. A motivação partiu do uso original ao material pelos operários, durante a obra, como explica o designer: “Os operários se reuniam sempre na pilha de ijolos que aguardavam para ser assentados. Pela manhã, ao chegar, usavam os tijolos como assento para prosa durante o café. (…) Depois, transformavam a pilha em mesa de reunião, com os projetos abertos sobre ‘ela’.”

Isabela Vecci & Thiago Alvim + Serralheiro Pacheco

Os grafites existentes no mercado chamaram atenção da designer Isabela Vecci, “um tipo de inscrição, de vocabulário particular e urbano que ocupa as ruas internas, entre lojas e corredores”, como ela descreve. Decidiu, então, convidar o artista e muralista Thiago Alvim para pensarem juntos nas mesas Ferrografia. Mesas de centro formadas por chapas metálicas receberam inscrições vazadas, sendo que o “miolo” extraído se tornou a base mesas laterais.

Olavo Machado + Wilson Acrílicos

O ACM (painel de alumínio composto com revestimento acrílico) foi a matéria-prima escolhidas para o banco Graúna, que tem nas dobras sua principal característica. “Estes profissionais são um exemplo de resistência ao tempo e condições econômicas que se apresentaram durante anos no mercado. Sua expertise, em colaboração conosco, designers, gerou peças interessantes, novos olhares a materiais e novas possibilidades de colaboração e enriquecimento cultural”, diz Olavo.

Pietro + Serralheiro Pacheco

A frente de cama Arreda é uma peça multifuncional. “Possui múltipla função de assento, sapateiro e revisteiro, pronta para ajudar a calçar o sapato ou guardar o tablet”, explica o designer.

Juliana Vasconcellos + Wilson Acrílicos

A cadeira Planos é composta por três superfícies bidimensionais que se encontram em encaixes e apoios. As cores do material translúcido são vistas de diferentes formas, conforme a posição do observador, e as sombras coloridas estendem a presença da peça no espaço.

Regina Misk + Flavio Fortunato (Escala Balanças)

Presos a uma estrutura metálica, centenas de fios se sobrepõem em quatro camadas, criando “a ilusão de uma chuva tropical tocada pela luz do sol”, conta Regina. Ao girar, a estrutura – totalmente revestida com fios crocheteados à mão – faz com que os fios “dancem”, criando um movimento quase hipnótico.

Suka Braga + Tiago Seralheiro

Os centros de mesa criados por Suka constituíram a base desta instalação, que precisou de uma estrutura reforçada no teto para pendurar as peças, que flutuam livre e poeticamente no espaço.

O BH Design Festival segue até o dia 08 de junho. Confira a programação completa em dmaisdesign.com.br. Fotos: Tiago Nunes e Winnie Bastian (Suka Braga)

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