Do sabão à música

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No mês passado, durante o London Design Festival, gostei muito de um projeto que foi apresentado na Roca London Gallery: o Design Exquis. Curado pelo designer Florian Dussopt e pela jornalista Géraldine Vessière, o projeto é uma espécie de “repente da criação”, no qual cinco designers/estúdios criam em resposta a algo já existente. A ideia foi inspirada por um método de criação coletiva criado pelos surrealistas, chamado Cadavre Exquis. O briefing do Design Exquis, segundo os curadores, é bastante livre – há uma única condição: próximo designer tem que criar um produto completamente diferente daquele que é a “base”. O diálogo que se segue é bacanérrimo.
Essa é a terceira edição do projeto, e dessa vez o ponto de partida escolhido foi o sabão –  isso mesmo, o sabão em barra, aquele usado para lavar roupa. “Gostamos de começar a partir de um objeto produzido industrialmente”, explicaram os curadores durante a apresentação do projeto.

A partir do sabão, o designer Jacopo Sarzi desenvolveu uma máquina de sorvete. Sarzi fez essa conexão porque, segundo ele, o sabão e o sorvete são feitos por processos muito parecidos, que misturam ingredientes graxos e alcalinos, que precisam ser misturados constantemente – mas com uma grande diferença de temperatura (45º C para o sabão e -21º C para o sorvete). A similaridade dos dois métodos inspirou o designer italiano a criar uma máquina de fazer sorvete que usa uma técnica inventada pelos romanos há mais de 2 mil anos. Um bloco de cortiça abriga dois bowls de alumínio que se encaixam: no de baixo, gelo e sal e, no de cima, o líquido que irá se transformar em sorvete. Pra quem quiser saber mais, tem um video aqui.

Depois foi a vez dos designers Philipp Schöpfer e Daniel Klapsing, do estúdio berlinense 45 Kilo, que buscaram inspiração nas cores e sabores de sorvete para criar os Summer Bowls. O alumínio anodizado ganha cores bem vibrantes, ao gosto do verão, enquanto algumas das tampas são feitas de Corian com pedacinhos pretos que remetem ao sorvete de flocos.

Para os próximos designers na série, Azusa Murakami e Alexander Groves, do Studio Swine, os Summers Bowls remetiam à construção do paraíso e ao “feeling das férias e da arquitetura modernista na terra do verão sem fim – particularmente Palm Springs e Los Angeles”. Essa ideia de utopia e da síntese entre o natural e o construído levou os designers a criar a luminária de mesa Mountain Light, desenvolvida com uma novo falso mármore, cuja técnica foi desenvolvida pelos próprios criadores.

Do falso mármore ao material verdadeiro: esse foi o passo dado pelo designer Lex Pott, que propôs uma série de prateleiras feitas com mármore e espelho. Pott explicou que a forma angular da luminária anterior o fez se lembrar de um livro aberto, e isso acabou levando-o à técnica do bookmatching, muito comum nas indústrias de pedras e madeiras: um bloco sólido de mármore, por exemplo, é cortado em dois e aberto ao meio, criando um padrão espelhado. Aqui, o designer substituiu um dos lados pelo espelho, criando o que ele chama de um “espelhamento artificialmente preciso”.

Para encerrar o ciclo, o compositor e sound designer Nick Phillips buscou no mármore subsídios para criar um novo som, batizado de Metamorphosis. Os veios do material foram saturados e, por meio de um método especial, convertidos em som. Não achei o resultado online, mas esse vídeo aqui mostra o processo.
Para quem está em Londres ou tem planos de visitar a cidade, a exposição segue até 16 de novembro.

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