Tecido em lata

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Na sexta-feira, uma notícia publicada pela BBC Brasil e pelo UOL chamou a atenção de muita gente (pelo menos, vários de meus contatos no Twitter e Facebook linkaram essa nota). O assunto que gerou tanto interesse era o Fabrican, um spray criado pelo estilista e pesquisador Manel Torres em parceria com o professor Paul Luckham. Ao ser aplicado sobre o corpo do usuário (ou um manequim de prova), o spray se converte em uma espécie de tecido não-tecido, o que permitiria fazer roupas customizadas de forma instantânea.

Fabrican_1

Segundo informações do site Fashionable Technology, em 2007 o Fabrican foi usado na criação do figurino dos atores que interpretavam enfermeiros em um hospital fictício em 2090, num filme feito pela Mr. Nobody Productions, uma baseada em Berlim. O próprio processo de feitura da roupa com o spray é bonito de se ver, e renderia bela performance num video de Lady Gaga.  😉

Manel Torres_Fabrican

Por ora, esse é o tipo de aplicação que considero mais viável. Embora o Fabrican seja interessante e promissor, ainda não me parece factível para o uso cotidiano. Apesar da matéria informar que o tecido pode ser lavado e reutilizado, sua textura ainda me pareceu muito “borrachenta” (a fórmula é composta por polímeros e fibras curtas de lã, linho ou acrílico), desconfortável para uso ao longo de um dia inteiro, por exemplo. No vídeo a seguir dá pra ver bem a textura do material.

Vendo esse video, me lembrei na hora das luminárias da série Cocoon – produzida pela Flos na década de 1960 e reeditada nos anos 2000 – cuja primeira peça foi a Taraxacum S (abaixo), criada pelos irmãos Achille e Piergiacomo Castiglioni. 

Cocoon_Taraxacum - A & PG Castiglioni 1960

As peças da série Cocoon eram (e são) criadas a a partir de uma estrutura metálica que, colocada em uma base giratória, é pulverizada com um polímero em spray, num processo que, segundo o nome da coleção já indica, remete mesmo à criação do casulo da lagarta/borboleta, como mostra o vídeo a seguir.

A série foi reeditada nos anos 2000 e ganhou um acréscimo: o pendente Zeppelin (abaixo, em primeiro plano e no detalhe), criado por Marcel Wanders a partir da mesma tecnologia.

Cocoon_Zeppelin - Marcel Wanders

Para as Cocoon, era suficiente que o material fosse estável e aderisse à estrutura de modo a criar uma membrana uniforme para a difusão da luz. Já no caso das roupas feitas com Fabrican, a meu ver, a questão é mais complexa: como o suporte é o corpo humano, o desafio é conseguir um material que seja maleável, transpirável e tenha uma textura agradável ao toque, para garantir a usabilidade das roupas criadas com ele. Aguardemos os desdobramentos…

(Via UOL/BBC Brasil, Fabrican, Imperial College London, Fashionable Technology, Gizmo Watch, Flos, Marcel Wanders)

3 comentários em “Tecido em lata

  1. muito interessante! adorei! além de roupas com um desenvolvimento maior, dá pra criar vários objetos revestidos em tecido, não? seria prático hahaha bjos

  2. Gente, mas uma roupitcha dessas só poderia ser usada por modelos! Qualquer "graxinha" sobrando já ficaria evidenciada, pois a roupa é colada no corpo. Acho que só para Lady Gaga mesmo, eheheh….

    Beijocas 🙂

  3. Também pensei nisso, Lígia! Pelo menos no estágio atual, estas roupas só atendem a quem curte roupas justérrrrimas…

    Acho que essa tecnologia tem potencial, mas ainda precisa ser mais desenvolvida. E talvez a moda nem seja o melhor campo para ela (mas certamente é uma ótima forma de divulgação).
    Uma das aplicações que eles mencionam, por exemplo, é para curativos (já que, por ficar dentro da lata, o material ficaria protegido da sujeira do ambiente, mesmo após o início do uso).

    Beijos!
    😉

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